
Vamos ao Bombarral, onde nasceu Júlio César Machado (em Durruivos, hoje A-dos-Ruivos), o “Machadinho”, o “Literato Janota” ou o “Folhetimfex Maximus”, que se distinguiu em Lisboa, na segunda metade do século XIX, como cronista e gastrónomo – “grande entendido em caldeiradas, folhetinista magnífico e gourmet de fino e apurado gosto”, segundo Albino Forjaz de Sampaio, e que, se fosse vivo, havia de escrever com agrado sobre o restaurante Dom José, na sua terra natal. Instalado no rés do chão de uma moradia, à entrada da vila, em zona residencial tranquila, tem uma sala pequena e clara: paredes brancas, mesas de madeira castanha, cadeiras de tom escuro, alguns quadros com o de Dom José a dominar, garrafeira bem visível e ambiente familiar, tão caloroso como descontraído.
A cozinha é tradicional nos produtos e na culinária, moderna em pormenores de confeção e de apresentação, caseira no gosto, com uma ementa pequena (8 entradas, 6 pratos de peixe, 6 pratos de carne, 6 ou 7 sobremesas), mas aberta ao que o mercado dá. Há dois pratos emblemáticos, que estão lá desde que José Louro abriu a casa, em 1992 (agora dirigida pelo filho Nelson, com a mãe na cozinha e uma irmã a ajudar nas sobremesas e na sala): os panadinhos e a feijoada. O peixe panado foi novidade, encantou e nunca saiu do topo das preferências, mesmo não sendo linguado, como no princípio, mas maruca, por motivos de economia e de mercado: a boa fritura, o acompanhamento ajustado com arroz de feijão e grelos, o molho tártaro bem feito fazem o equilíbrio e o fascínio do prato (a ideia terá vindo de Inglaterra, onde José trabalhou em restaurantes e hotéis, talvez influenciado pelo fish and chips). Outro tanto se pode dizer da feijoada de porco ibérico com feijão-branco, couve e arroz branco, feita com cachaço de porco preto, feijão-branco, couve-lombarda e chouriço, que é mais para enfeitar, com um toque de vinagre caseiro e que acompanha com arroz branco, iguaria mais leve do que é costume, e também mais gostosa e delicada.

Há dois pratos emblemáticos, que estão na ementa desde que o restaurante abriu, em 1992: os panadinhos de peixe e a feijoada de porco ibérico com feijão-branco, couve e arroz branco
Mas há mais. Nas entradas, biqueirões laminados em azeite, cogumelos frescos salteados em azeite e alho, com espargos, ovos mexidos com farinheira, camarão ao alhinho, salmão fumado com salada mista, presunto ibérico e queijo de cabra curado de Serpa, da Soalheira e amanteigado de Azeitão. Nos peixes, opções ditadas pela praça, que vão das lulinhas de Peniche salteadas em azeite e alho com batatas a murro aos joaquinzinhos fritos com açorda; do arroz de línguas de bacalhau com coentros ao linguado à pescador com molho de manteiga com limão, batata cozida e camarão, e da açorda de camarão com coentros ao caril de camarão com arroz basmáti e papadum, que só depois de se provar mostra as razões por que está entre os pratos mais pedidos. Nas carnes, as escolhas podem recair, se for dia delas, em iguarias como a cabidela de frango do campo, o coelho desossado frito à portuguesa (em azeite e alho), com batata frita às rodelas e legumes salteados, a perna de pato no forno com laranja, a chipolata (lembra vagamente uma carne de porco à alentejana, com castanhas e bacon em vez das amêijoas e dos pickles), entre outras. Nas sobremesas, considere as tartes (maçã com gelado, lima com manjericão e tatin de pera-rocha), o bolo e a musse de chocolate, a cassata com trouxa de ovos. Garrafeira à vista com dispensa da carta e sem vinhos muito comerciais ou muito caros, alguns a copo. Serviço eficiente e simpático.
Dom José > R. Dr. Alberto Martins dos Santos, 4, Bombarral > T. 262 604 384 > seg 12h30-15h, ter-sáb 12h30-15h, 19h30-22h > €25 (preço médio)