O restaurante tem o nome da dona, Georgina, mais conhecida por Gina, 66 anos, matriarca da família Pinto, nascida e criada na aldeia de Parafita, em Montalegre, na região de Trás-os-Montes. Chegou a Lisboa com 22 ou 23 anos, não tem a certeza, diz, para dar continuidade ao negócio (até 1975, chamava-se Júlio das Miombas) dos tios do seu ex-marido, Júlio. É ele o atual cozinheiro d’A Gina, o único restaurante que soube resistir ao apagar das luzes da ribalta no Parque Mayer.
Os croquetes de alheira (€5) e a tábua de queijo com presunto e paio de porco preto (€8) vão enganando a fome até chegar a travessa de cozido à portuguesa, prato do dia à quinta-feira. Batata, cenoura, couve, carne de vitela e de porco, feijão, arroz e enchidos chegam em dose farta (€15, duas pessoas).
Gina e Júlio estão divorciados, mas trabalham juntos em prol deste negócio familiar que gerem há mais de quatro décadas. “Ela estava na terra e eu na tropa. Depois, viemos para a cidade tentar a sorte. Comprei o restaurante há 44 anos, por 500 contos”, recorda Júlio. Aos 68 anos, é na cozinha que passa a maior parte do dia: “Até ao domingo, dia de folga, venho cá orientar o almoço.” Elogiado pela feijoada, Júlio explica como prepara a sua versão. “Faço à maneira transmontana, com grelos, o que, além de engrossar o molho, também lhe vai dar aquele amargo.” Diz que gosta de cozinhar mas mais ainda de comer. Outro prato que lhe enche as medidas é a vitela de Montalegre assada no forno (€11).
Gina recorda os “muitos artistas” que passaram pelo seu restaurante. Linda Silva, Ribeirinho, Eugénio Salvador, Marina Mota, Camilo de Oliveira, José Raposo, entre tantos outros. “Escolhiam muitas vezes o bife frito na frigideira, mas também apreciavam as nossas iscas.” Com o aumento do turismo, enchiam a sala três ou quatro vezes por refeição, “por isso, decidimos transformar os armazéns em sala de refeição”, fala agora Rui, filho de Gina e de Júlio, que faz um bocadinho de tudo. Nos tempos gloriosos do Parque Mayer, funcionaram quatro teatros e 13 ou 14 restaurantes. “Agora somos o único”, diz Gina, a resistente deste lugar cheio de memórias.
A Gina > Parque Mayer, Lisboa > T. 21 342 0296 > seg-dom 12h-16h, 18h30-24h