
“Uma casa destas é muito mais do que aquilo que se põe no prato”, admite Rogério Sá que reabriu o restaurante há semanas
Quando, por estes dias, ligámos a Rogério Sá para apalavrar a visita ao seu restaurante, estava ele a caminho de Finisterra, na Galiza, em busca das loiças de barro saídas das mãos dos oleiros de Buño. “São fantásticas, não largam cheiro e aguentam muito mais as temperaturas”, resume este tarimbado empresário de 58 anos que, entre 1985 e 2011, deu nome a uma das mais identitárias e castiças casas do Porto em matéria de mastiganço e, agora, regressa ao aconchego onde se fez famoso. Fechado desde 2015, o Rogério do Redondo reabriu há semanas. Quando decidiu rumar a Angola, o antigo proprietário, agora de novo ao leme, vendeu-o a um empregado, imaginando, talvez, que a fama e o prestígio acumulados em décadas dariam, pelo menos, para evitar o definhamento. Mas ele veio.
As memórias coletivas e gustativas, essas, prevaleceram. Rogério ensaiava o regresso à restauração, em Gondomar, de onde é natural, quando a senhoria o desafiou a retomar aquele espaço mítico. Associado a Eduardo Sánchez, catalão adotado pelo Porto, e Manuel Dias, da Imacústica, deu o “sim”: “Continuaremos a ser uma família. Tive aqui cenas fantásticas com clientes, cheguei a jogar golfe nesta sala, uma risota! Já estava com saudades.” De Artur Santos Silva a António Lobo Xavier, de Alberto Péssimo a Francisco Laranjo, o Rogério do Redondo sempre foi poiso da sociedade portuense de várias artes e ofícios. A história repete-se. “Uma casa destas é muito mais do que aquilo que se põe no prato”, admite este homem de porte agigantado, com o “ar de rock”.
Num instantinho arrebitou nele a faceta adormecida. “Os donos dos bons restaurantes são perdigueiros”, assume, em causa própria, sem falsas modéstias. Encomendar é uma coisa, ir aos sítios é outra. Ele vai. Sentidos despertos, espevitado por recordações e sabedorias cultivadas no terreno e ao lume. Em Oviedo, comprou costeletões. “Até posso pedir à distância, mas prefiro ir antes e escolher. Com os presuntos de Barrancos, por exemplo, não basta chegar e comprar. Convém saber que o porco dorme sobre a pata direita, por isso a carne da pata esquerda é melhor. Como está mais descansada, tem mais gordura”, explica. Marisco, trouxe-o de Vila Real de Santo António: “Gambas, lagostins, conquilhas, canilhas e carabineiros de excelência.” Rogério, “um esquisito do caraças com as batatas”, calcorreou Chaves e Bragança à cata delas e dali não saiu sem as provar. O mesmo para pencas e grelos. Ou para o lacão (pernil) de Lálin. A isto, junte-se confiança, mimos.
À cozinha regressou Fátima Pinto, de saborosas recordações. Na mesa, voltam a repousar guardanapos de pano gravados com o nome de clientes fiéis. “Isto nunca será um restaurante turístico, impessoal. Vamos é recuperar laços antigos, isso sim”, promete Rogério. Para tal, ele conta com lembranças de salivar por mais. Os filetes de pescada – “temperados e cortados no momento”, com arroz de feijão malandro e grelos, continuarão a fazer história, tal e qual as tripas à moda do Porto (quintas e sábados). Galos de cabidela, “à séria”, e bacalhau, “à facho”, estão garantidos, além de peixe-galo com açorda de ovas. Em dias incertos, mas frequentes, haverá cozido, vitela e cabrito assados. “Sinto que nunca saí daqui”, confessa este descendente de negociantes de vinhos. “O restaurante Manuel do Redondo, onde comecei, fazia um redondo, daí o nome”. Redondos ficaremos todos, isso sim, se não nos pusermos a pau com o regresso do Rogério às lides.

A carta do restaurante é dedicada à cozinha tradicional portuguesa. Mas não se admire se, em breve, a ementa incluir sabores angolanos, entre eles moamba de galinha, calulu de carne seca, caldo de peixe com mandioca ou sopa de feijão com esparguete e unhas de porco
Rogério Do Redondo > R. Joaquim António de Aguiar, 19, Porto > T. 22 536 2215 > ter-sáb 12h-15h, 20h-22h30, dom 12h-15h > €25 (preço médio)