Nesta altura, servem lampreia em arroz (ou à bordalesa, por encomenda) e sável frito com açorda de ovas ou arroz de bulho
Os restaurantes que se reclamam de cozinha portuguesa e preservam as suas principais características – ambiente familiar, culinária esmerada, embora simples, produtos e sabores tradicionais – merecem ser valorizados, como é o caso da Tasca do Manel, no Bairro Alto, em Lisboa. Agora, tempo da lampreia e do sável, prepara estes pratos, bem como os demais, à maneira antiga – “rebelde à escrita dos manuais” e transmitida “por tradição”, no dizer de Fialho de Almeida –, para gáudio dos comensais que se distribuem pela sala principal com balcão, pequeno telheiro e garrafas de vinho em prateleiras decorativas, pela salinha destinada a grupos familiares, de negócios ou de amigos, e pela esplanada, na rua, à mercê do tempo. As instalações são modestas mas acolhedoras, o ambiente descontraído e a comida genuinamente portuguesa – ou, como dizia o grande escritor e gastrónomo citado, “sápida e sadia”.
Extensa e diversificada, a ementa abre com os “pratos do dia”: três de peixe e três de carne. Nas entradas, sugerem–se petiscos tradicionais, que são bons, tanto as amêijoas à Bulhão Pato, como a morcela da Beira e as pataniscas, comum par de protagonistas; peixinhos da horta, de polme e fritura exemplares; cogumelos salteados com castanhas, de sabor enriquecido com um toque de vinho verde. Quanto aos pratos principais, também não falta por onde escolher. Nesta época, são inescapáveis a lampreia em arroz, verdadeiro regalo (ou à bordalesa, por encomenda), e o sável frito com açorda de ovas ou arroz de bulho (leva aparas, ovas e sangue do peixe; lembra cabidela), com o peixe em postas finas e estaladiças e o acompanhamento também delicioso.
O ano inteiro, a caça, que é outra especialidade da casa, com feijoada de javali, que é prato diário e um dos mais pedidos, javali no churrasco, empada de lebre, perdiz e faisão estufados. Também diários e muito requisitados são o arroz de garoupa com camarão, malandrinho, cheiroso, feito ao momento; os filetes de peixe-galo com açorda de ovas, ou de berbigão, quando não há ovas; o polvo à lagareiro, macio e saboroso; o peixe do dia grelhado, sempre fresco; os vários pratos de bacalhau (à Brás, pataniscas, pastéis e a tão injustamente esquecida caldeirada); borreguinho assado, sempre à sexta-feira; ossobuco, à segunda; e carnes grelhadas, entre outros. Boa doçaria tradicional. Garrafeira adequada. Serviço eficiente e simpático.
Tasca do Manel > R. da Barroca, 24, Lisboa > T. 21 346 3813 > seg-sáb 12h-15h, 19h-23h30 > €20 (preço médio)