Instalados em Alfama, Tiago Feio (na foto) e Ana Cachaço convidaram pessoas que vivem ou trabalham no bairro para colaborarem neste novo Leopold: a ceramista Teresa Pavão criou as peças de loiça usadas para servir os clientes e o designer Alexandre da Silva, da Ó! Galeria, fez o biombo que decora a entrada
Mário João
Não fosse a mesa de madeira comprida, posta com copos de vidro verde e guardanapos de pano enrolados, e podíamos achar que o novo Leopold era uma galeria de arte, pela arquitetura da sala e as fotografias na parede. Há dois meses que o restaurante se mudou de uma antiga padaria na Mouraria para a casinha branca à entrada do hotel Palácio Belmonte, em Alfama, perto do Castelo de São Jorge, em Lisboa. A morada antiga, explica o chefe de cozinha Tiago Feio, era “um espaço lindíssimo mas minúsculo”, que apenas lhe permitia servir pouco mais de dez pessoas. No antigo Leopold (o nome foi inspirado num poster do pintor Egon Schiele que Ana Cachaço, mulher e braço-direito do chefe, trouxe do Museu Leopold, em Viena), Tiago Feio trabalhou numa cozinha sem fogão, sem extração de fumos e – aquilo que mais o incomodava – sem frigorífico. “Isso obrigava-me a passar mais horas nas compras do que a cozinhar”, recorda. No entanto, tudo isso o fez explorar diferentes tipos de cozinha e de texturas e o levou a descobrir a sua verdadeira linguagem: simples, minimalista, contemporânea e assente no produto local (a relação direta com o produtor permite-lhe um maior controlo da qualidade, sublinha).
No novo Leopold, Tiago Feio tem agora todos os equipamentos que lhe faltavam. E tem também 22 lugares à mesa e um menu degustação composto por oito pratos (€40, por pessoa, sem vinhos). Não há serviço à carta, por isso, o chefe aconselha que se chegue de “cabeça aberta”. Um pedido que se percebe logo no início da refeição, quando nos chega um prato com beldroegas, mizuna, azedas, salsa japonesa e ice plants, acompanhado por maionese de algas. Salte-se ao terceiro momento do jantar para se provar o puré de túberas e azeite com crocante de especiaria, um prato criado recentemente e que tem sido dos mais elogiados. Para quem não conhece as túberas, o chefe explica: “São as nossas trufas do Alentejo”. Segue-se um pão de sabor ácido, feito por um americano que vive ali perto, conta o chefe. Com ele vem a manteiga de ovelha e tártaro de algas. “Não é um simples couvert, quisemos dar a devida importância que o pão merece”, afirma. Antes de surgirem na mesa umas caixinhas de metal – cujo recheio não se desvenda – há de ainda servir-se novilho dos Açores com algas. “Aqui damos continuidade à cozinha do antigo Leopold, mas elevando-a a um outro nível”, conclui Tiago Feio.
Mário João
Leopold > Pátio de Dom Fradique, 12, Lisboa > T. 21 886 1697 > qua-dom 19h-23h