É Dia de Portugal à mesa do Gambrinus, que a especialidade de sexta-feira inclui pato com arroz, bacalhau à Chico Lage e caldo verde. Na cozinha, trabalha-se desde as 8 da manhã, seguindo à risca receitas de sempre, sob orientação do chefe Carlos Oliveira. A brigada de sala, utilize-se a gíria, chega pouco depois, assegurando o serviço entre as 12h e a 1h30. É assim todos os dias, exceto no Dia do Trabalhador. “Fiquei aqui no primeiro 1º de Maio e às três da tarde já não havia pão, nem café. Jurei para nunca mais”, recorda Dario Afonso, atual coproprietário do Gambrinus que este mês chega aos 80 anos. A data de registo – 14 de julho de 1936 – assim o atesta, sempre ali no 23 da Rua das Portas de Santo Antão, onde o alemão Hans Schwitalla e o seu genro galego, Claudino Sobral Portela, começaram a servir cerveja e petiscos germânicos. Depois, em 1964, já com novos sócios (todos galegos), o Gambrinus aprimorou-se.
Duas salas e uma barra, madeiras a toda a volta, segundo o traço do arquiteto Maurício de Vasconcellos, que desenhou também candeeiros, mesas e cadeiras. Junte-se a tapeçaria e os vitrais de Sá Nogueira, os óleos de Jorge Pinheiro e Espiga Pinto, e eis como pouco ou nada mudou. Tal como a ementa: empadão de perdiz (segunda-feira), sopa rica de peixes (quarta) ou eisbein com choucroute (quinta) a agradar às gerações de famílias, políticos, empresários e artistas. Tudo servido à frente do cliente, que aqui não há pratos feitos. “Mas o menu não é só aquilo que está escrito”, diz Octávio Ferreira. “Com o que temos na cozinha, atendemos um pedido especial”, sublinha o chefe de sala e sommelier, 35 anos de Gambrinus.
Sobre o que define o restaurante, diz a experiência de 62 anos do sr. Dario, “é que tanto servimos caviar e champanhe, como croquete e cerveja”. E como são bons os croquetes com mostarda inglesa da Colman’s… E o prego do lombo, o pão de centeio torrado com manteiga, os mariscos ou o café de balão ali na barra, supervisionada pelo sr. Brito. Serviço atento e discreto. Tão discreto que os empregados chamam uns pelos outros com um beijinho. “Já era assim em 1965, quando entrei”, remata com um sorriso.
Gambrinus > R. das Portas de Santo Antão, 23, Lisboa > T. 21 342 1466 > seg-dom 12h-1h30