Por volta do meio-dia não há quem detenha Vasco Mourão por ali. “Começo a stressar porque tenho que sair.” Duas vezes por dia, antes do almoço e do jantar, desce as escadas do primeiro andar, onde fica o seu escritório/quartel-general e percorre a sala do Cafeína de ponta a ponta, verificando se as toalhas “estão bem passadas”, os copos e as mesas alinhados, a música ambiente (selecionada por si) a tocar. “Aquela luz do candeeiro está fundida”, alerta à chefe de sala. A mesma tarefa é repetida, a seguir, no Terra (situado quase em frente), no Casa Vasco (na esquina dessa rua) e no Portarossa (umas ruas mais acima). Sempre a pé, duas vezes por dia. E talvez seja este acompanhamento diário o segredo do sucesso do Cafeína. O regresso à sala está marcado para o almoço onde o espera uma prova vertical de vinhos Quinta da Covela com vista à nova carta.
São 12 e 30 e a sala começa a encher. Misturam-se empresários, turistas portugueses e estrangeiros, com clientes habituais.
Muitos negócios “da nossa política e economia” se desenharam, com certeza, à mesa da sala pintada de cinza esverdeado, com janelas viradas para as ruas do Padrão e de Gondarém, numa casa do século XIX. Muitos pedidos de casamentos ali se fizeram. O restaurante tem sido (como ainda é) palco de muitas celebrações. Certo é que os “dois a três mil clientes assíduos” do Cafeína fazem dele um espaço de consensos. À exceção, talvez, do “Bacalhau à Dilma”, nome introduzido na carta depois de a Presidente do Brasil ter aterrado no Porto, de propósito, em 2012, para saborear o bacalhau gratinado com aioli, migas de grelos e radicchio. O nome do prato voltaria, contudo, ao original dois anos depois porque “muitos brasileiros não achavam piada”, revela Vasco Mourão. “O prato continua a ser o mesmo mas sem o nome. Eles comem mas já não dizem mal.”
Quem o conhece e sabe da sua influência em selecionar os pratos que têm constado na carta do Cafeína ao longo das últimas duas décadas não imagina que não saiba cozinhar. “Tenho um paladar mental”, brinca. “Nunca cozinhei. Não sei estrelar um ovo. Também nunca fui às compras, perco-me no supermercado.” Certo é que era ele quem sugeria a combinação dos ingredientes na cozinha (à exceção dos últimos anos, em que a relação de confiança com Camilo Jaña o tem ajudado nessa tarefa). Exemplo disso são alguns clássicos da ementa que têm perdurado no tempo como o tordenó Wellington, o magret de pato com molho agridoce, legumes com mel e batata rosti, o chateaubriand com molho béarnaise ou o bolo de chocolate amanteigado conhecido aquém e além-fronteiras.