Quando, há um ano, a equipa da CRERE – Centro de Restauro e Estudos chegou ao Salão Árabe – sala com mais de 100 anos com estuques do século XIX estilo neoclássico e um dos ex-líbris do Palácio da Bolsa – encontrou “sujidade acumulada, madeiras fragilizadas, folhas de ouro em falta, vitrais quebrados…”, conta Marta Castro, coordenadora da equipa de restauro.
Nada que revelasse situações de perigo, mas antes estragos provocados pelo intenso uso da sala ao longo de décadas (com visitas, concertos, bailes), situada num dos mais belos monumentos do Porto. “As zonas de acesso fácil eram as mais desgastadas devido à gordura”, revela. Foi necessário “estabilizar os materiais, repor a folha de ouro, a cor, elementos em falta, refazer os vitrais”.
A recuperação, orçada em 400 mil euros, foi concluída há poucas semanas e a beleza desta joia arquitetónica do século XIX ficou ainda mais evidenciada. “O objetivo foi sempre substituir o que falta mas não mexer no que está”, esclarece a restauradora.
O mais curioso é que o Salão Árabe não deixou de ter visitas durante as obras. “O desafio que se colocou foi não fechar. Fechar ao turismo custaria mais do que a obra”, ironiza Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, visivelmente orgulhoso, enquanto nos serve de cicerone. A sala “transformou-se num objeto de culto para os turistas”, conta.
Para não ferir a arquitetura da sala, os próprios escadotes foram revestidos com folha dourada. “Uma das perguntas que mais nos faziam era se seriam feitos de ouro”, recorda Marta Castro.
Outra particularidade da obra foi o facto de ter colocado a descoberto a mezanine da sala, cujo acesso estava proibido devido à degradação de uma escadaria e claraboia. A obra permitiu ainda a descoberta “das diferentes técnicas de construção, resultado da passagem por diferentes mestres”, já que a sua construção demorou 18 anos.”Esta sala foi concebida com materiais muito bons. Depois de levantado esse véu, verificámos que continuavam em bom estado.”
A reabilitação do Palácio da Bolsa não fica por aqui. Em outubro, arranca a segunda fase que contempla a cobertura da Escadaria Nobre e Sala Medina, restauro dos estuques e pinturas decorativas do Mestre António Ramalho, num investimento de um milhão de euros.
RECORDE DE VISITANTES Já não é novo o facto de o Palácio da Bolsa ser, há anos, o monumento mais visitado do Porto (e, até, do Norte). Mas 2010 “prepara-se para ser o melhor ano em termos turísticos”, com o número de visitantes a aumentar cerca de 20 a 25 por cento por mês. Diariamente, há visitas guiadas ao Palácio da Bolsa em português, inglês, francês, espanhol e alemão.