O assunto diz respeito a dois milhões de mulheres portuguesas em idade reprodutiva e pré-menopausa. “Os miomas uterinos são nódulos no tecido muscular do útero e, na maioria dos casos, o seu aparecimento não se faz acompanhar de sintomas”, esclarece a ginecologista-obstetra Irina Ramilo, do Hospital Vila Franca de Xira, e do Centro Especializado de Endometriose, do Hospital Lusíadas, em Lisboa, no Conversas VISÃO Saúde desta semana.
Porém, quando eles surgem, manifestam-se através de “hemorragias mais abundantes, com mais fluxo e coágulos e, dependendo do tamanho, pela compressão de orgãos como a bexiga ou o intestino.” E, consoante a localização, na cavidade do útero, “podem interferir com a nidação de uma gravidez.”
Embora as causas sejam desconhecidas, sabe-se que envolvem fatores ambientais (a alimentação, por exemplo) e genéticos (são mais comuns nas mulheres de raça negra). Para saber se tem, ou não, miomas, deve ir a uma consulta de medicina familiar ou de ginecologia. Geralmente, é feita uma ecografia, o que é especialmente importante “se estiver a pensar em ter filhos, ou no pós-parto”.
Por vezes, podem ser precisos outros exames complementares, como uma ressonância magnética, a fim de obter dados minuciosos sobre o tamanho ou a localização de um ou mais nódulos. Só então se decide qual a melhor solução, dependendo da história clínica de cada mulher.
Como se tratam
Muitos destes nódulos mantêm-se estáveis por vários anos, sem que constituam um motivo de preocupação. Além disso, a probabilidade de aparecerem diminui com o passar dos anos: “Na menopausa, há menos hormonas em circulação e é frequente que miomas que já existiam ficarem mais pequenos.”
Feito o diagnóstico, o foco passa a ser o tratamento individualizado. “Se os miomas forem assintomáticos, vigiamos o seu crescimento e, se forem muitos grandes, têm de ser retirados, até, por via vaginal mas, na maior parte das vezes, tentamos controlar os sintomas.”
Aqui entram os anti-inflamatórios para a dor, mas também os fibrinolíticos, que reduzem a hemorragia excessiva, a toma da pílula, que diminui, ou impede, o fluxo menstrual e os dispositivos intrauterinos. Em alguns casos, “pode induzir-se a menopausa terapêutica e combiná-la com estrogénios e progestativos para minimizar os efeitos associados”.
Na consulta, avaliam-se as opções que melhor se adequam às necessidades da mulher, bem como as alternativas, quando há limitações de saúde pré-existentes ou a medicação é contra-indicada.
“Não és tu, é o teu útero”
A campanha de sensibilização que está nas ruas, desde novembro, com 400 mupis, em todo o País, pretende desfazer mitos e consciencializar as mulheres e a sociedade para um assunto feminino que ainda é um tabu. “Algumas das minhas pacientes, que deram o seu testemunho, sentiram dificuldade em expressar que tinham miomas e a frase tem a intenção de mostrar que é uma patologia benigna, que pode ser admitida, falada”, faz saber a dirigente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.
A partir destes cartazes, com uma imagem de um útero e um QR Code, é possível aceder gratuitamente ao site Falar de Miomas e saber mais sobre o tema e não se sentir sozinha.
“O recurso ao Dr Google nem sempre é a melhor solução, porque se encontra muita coisa e muitas vezes acaba numa neoplasia, nem tudo é assim; apenas 1% podem tornar-se malignos (sarcoma)”, observa Irina Ramilo, explicando porque criou a página A Ginecologista da Melhor Amiga (também no Instagram): “Nós [mulheres] falamos muito com as nossas amigas; o meu objetivo é ser uma ginecologista mais próxima e dar a oportunidade de fácil acesso a uma literacia na saúde.” E acrescenta: A ideia é informar, de um modo correto e “tentar chegar, não só à melhor amiga, mas à maioria das mulheres.”
Falar é preciso, cuidar também
Depois de tratar ou remover os miomas – sempre que tal seja necessário – é de admitir que o problema fica sanado. Nem sempre é assim. “Apesar dos tratamentos, os miomas uterinos podem voltar a crescer, por isso é preciso manter a vigilância”, observa a especialista. E desdramatiza: “A maioria das mulheres podem manter a terapêutica para controlar sintomas e, mesmo com miomas grandes, isso não significa que não possam engravidar e ou que tenham de ser operadas.”
Embora seja melhor prevenir do que remediar, a médica lembra que não se controla tudo. “Ter uma alimentação saudável, fazer exercício físico, etc, não impede que venha a ter miomas, que eles cresçam ou surjam sintomas se houver propensão.”
Manter as consultas de rotina e procurar fontes de informação credíveis é, por isso, o melhor caminho. E, em caso de diagnóstico positivo, procurar ajuda e falar sobre isso, sem receio ou embaraço.
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