Com a chegada do calor, muitas pessoas sentem as pernas pesadas, cansadas e com dor. Porém, tais sinais podem ser indicativos da presença de Doença Venosa Crónica.
Como explicou Joana de Carvalho, especialista em cirurgia vascular, durante o último episódio de Conversas com Saúde, esta é uma doença que afeta as veias, provocando pequenos derrames, varizes, inchaço, alterações na pele das pernas, que passa a estar “acastanhada, endurecida e descamativa”, ou mesmo feridas, “que podem demorar meses ou até anos a cicatrizar”.
Os principais sintomas, como “a dor, sensação de peso e cansaço”, normalmente revertem com o descanso noturno e, precisamente por isso, a doença acaba por ser, tantas vezes, ignorada pelos próprios doentes.
Relativamente a esta questão, Joana de Carvalho sublinha a importância de ir tomando atenção aos sinais de alerta. “Quem tem estas queixas deve procurar uma avaliação médica”, reforça a especialista.
É que, a pesar de se estimar que, em Portugal, a Doença Venosa Crónica afete cerca de 35% da população, o problema é sistematicamente desvalorizado por muitas das pessoas afetadas por ele. É importante não esquecer, alerta Joana de Carvalho, que “as varizes, só por si, independentemente de darem ou não darem queixas, acarretam riscos”.
“Sabemos que quem tem varizes tem um risco cinco vezes maior de vir a ter uma trombose venosa profunda”, revela a médica. Este tipo de trombose ocorre quando coágulos, que se formam nas veias principais das pernas, perdem pequenos fragmentos, o quais são lançados na corrente sanguínea, podendo atingir a circulação pulmonar e dar origem a uma embolia pulmonar “que, em última análise, poderá ser um evento fatal”.
Além disso, Joana de Carvalho refere que cerca de 5% das pessoas que têm varizes não tratadas podem vir a desenvolver feridas nas pernas. As lesões deste tipo “dão muita dor e demoram muito tempo a cicatrizar, implicando profundamente no absentismo laboral e na qualidade de vida da pessoa”.
Tratar a tempo é importante
Por estas razões, a especialista em cirurgia vascular sublinha a importância de um tratamento precoce das varizes, “mesmo que ainda não doam”. Para tal, os doentes dispõem de diversas terapias “cada vez menos invasivas”, que podem ir do laser à radiofrequência, as quais “fecham a veia por dentro”, sem ser necessário retirá-la do corpo.
Após o procedimento, na maior parte das vezes feito com anestesia local, o regresso ao trabalho e às rotinas do dia-a-dia é rápido, assegura Joana de Carvalho. “Não há que ter medo ou adiar o tratamento por se ficar muito tempo parado ou interromper o trabalho”.
Ao longo da conversa, a médica referiu ainda que não existem quaisquer contra-indicações, a nível de tipo de atividade física, para as pessoas com Doença Venosa Crónica, muito pelo contrário. E explicou ainda como abordar a questão, caso ela surja durante a gravidez.
Apesar de um dos maiores fatores de risco ser a hereditariedade, Joana de Carvalho sustém que um estilo de vida ativo e uma observação atenta dos sinais podem reduzir os danos.
Com o início do verão a poucos dias de distância, a médica aconselhou ainda os doentes a hidratarem-se, refrescarem frequentemente as pernas na água e protegerem-se com protetor solar. Isto porque, além de a ativação da melanina pelo Sol piorar, a longo prazo, os derrames e manchas nas pernas, “a radiação infra-vermelha pode aquecer de tal maneira a pele que leva ao aparecimento de mais derrames”.
Para ouvir em Podcast: