A poluição atmosférica pode parecer a causa mais direta para provocar danos no nosso organismo, mas não é a única nem sequer a mais grave. O médico de medicina interna Luís Campos, que fundou o conselho português para a saúde e ambiente no final do ano passado, para alertar para estas questões, quase que a desvaloriza perante as outras ameaças. É que, desde há uma década que Portugal tem vindo a melhorar a qualidade do ar, o que nos coloca do meio da tabela europeia para cima. Note-se, porém, que, segundo um artigo recente do The Guardian, 98% dos europeus respira ar poluído.
As outras ameaças mais preocupantes são bastante díspares e criam um cenário dantesco. Luís Campos lembra que, desde 1970, a pegada ecológica global excedeu a capacidade de regeneração da Terra. As alterações climáticas estão a atingir proporções dramáticas, com o aquecimento global, por exemplo. E é por isso que assistimos a fenómenos extremos, como tempestades e inundações que influenciam a perda de biodiversidade. Ao mesmo tempo, registam-se alteração dos vetores, da qualidade da água e da alimentação.
É caso para perguntar: De que forma esta deterioração das condições no planeta afeta a nossa saúde? Para começar, Luís Campos realça: “Anualmente, morrem 13 milhões pessoas por causa de fatores ambientais.”
“As doenças que têm maior afetação ambiental são as cardio cerebro-vasculares, principalmente por causa das temperaturas extremas, que alteram a inflamação e o sistema imunológico”, explica. Mas as patologias alérgicas, como a asma ou doenças de pele, também têm vindo a aumentar por causa do mau estado do Planeta. O especialista não esquece as doenças pulmonares, claro, que estão intimamente relacionadas com a poluição e que causam 9 milhões de mortes em todo o mundo.
Outro grupo de doenças são as transmitidas por vetores, como a Malária ou o Dengue, que estão a crescer de uma forma assustadora. Segundo dados de 2016, já desatualizados, portanto, os mosquitos matam 780 mil pessoas por ano. E o aquecimento global é o responsável por esses mosquitos transmissores terem vindo a mudar de habitat. “Eles já andam por aí”, avisa o médico. E por aí entenda-se na Europa.
Os mais afetados por este tipo de doenças ambientais são os vulneráveis do costume: os idosos, crianças e pessoas com patologias crónicas.
Ainda que pareça pouco provável, as doenças mentais também tendem a agravar-se com os fenómenos ambientais, manifestando-se especialmente através da eco-ansiedade e da depressão. “Esta condição atinge principalmente as gerações mais novas, mas tem uma enorme prevalência”, regista Luís Campos.
As causas para estarmos nesta encruzilhada são tantas que tornam o problema muito complexo, exigindo atuações multifatoriais. E de todos os agentes responsáveis, desde o nível mundial – através de acordos internacionais e penalizações aos países mais poluentes – às nossas ações pessoais. Só assim se conseguirá, na opinião do especialista convidado desta emissão das Conversas com Saúde, travar o lançamento de gases que provoca efeito de estufa para a atmosfera e ao mesmo tempo abrandar o eclodir destas doenças e mortes.
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