Atualmente, poluição é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a quarta causa de mortalidade no Mundo. Todos os anos, cerca de 24% das mortes registadas têm origem numa causa ambiental. “Já antes da COP26, em Glasgow, a OMS tinha referido que as alterações climáticas eram a maior ameaça à saúde da humanidade”, recorda o último convidado das Conversas com Saúde, Hélder Dores, Secretário Geral da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.
O médico, que considera o evento mais grave para a nossa saúde, “sem dúvida, o aquecimento global”, sublinha que, “já nessa altura, considerava-se que o stress ambiental fosse responsável por 12% a 18% das mortes na Europa”.
Doenças cardiovasculares, mal-nutrição ou malária são apenas algumas das doenças cujo aparecimento, o aumento da temperatura do planeta pode exponenciar. Mas o impacto maior na mortalidade global acaba por chegar das doenças cardiovasculares, a principal causa de morte nos países desenvolvidos.
“Conseguimos estimar que, se não fizermos nada para mudar este paradigma, daqui a umas gerações as alterações climáticas vão constituir uma das principais causas de morte em termos globais”, alerta Hélder Dores.
É que, como explica o cardiologista, “temperaturas extremas, muito frias ou muito quentes, aumentam o risco de doenças cardiovasculares”. A exposição a ondas de calor, por exemplo, aumenta o risco para enfartes do miocárdio, AVC e insuficiência cardíaca.
“Mesmo pessoas com corações perfeitamente saudáveis, sem qualquer comorbilidade, podem ter um evento que seja fatal”. Por cada grau a mais na temperatura global do planeta estima-se que o risco de podermos ter um evento cardiovascular aumente 2%, assegura o especialista.
Associada às alterações climáticas surge ainda a poluição atmosférica que, segundo a OMS, é responsável por 25% das mortes por doença cardíaca e 24% das mortes por AVC. “A poluição aumenta a probabilidade de ter um enfarte agudo do miocárdio, AVCs e insuficiência cardíaca, apesar de não sabermos ainda muito bem porque é que tal acontece”, explica Hélder Dores.
No entanto, sabe-se que a inalação de micro-partículas nocivas “vai provocar uma inflamação sistémica, a qual, por afetar os vasos sanguíneos, nomeadamente as artérias, leva à formação de placas e trombos que podem estar na génese destes eventos cardiovasculares”.
Quem está em risco?
Apesar de qualquer um de nós, quando exposto a temperaturas extremas, estar mais vulnerável, “o risco não é igual para todos”.
“Os idosos têm um risco maior de ter estes problemas e sofrer com esta exposição, tal como as pessoas portadoras de doenças crónicas, nomeadamente insuficiência cardíaca, doença coronária, doença renal crónica ou doença pulmonar obstrutiva crónica”. Mas também quem está “constantemente exposto a ambientes poluídos na sua profissão, por exemplo”.
Como minimizar o risco?
“Temos claramente de melhorar a literacia das pessoas para este problema”, defende Hélder Dores. O cardiologista acredita também que “alcançar a neutralidade das emissões deve ser um objetivo prioritário, porque não temos planeta B e já estamos a consumir mais do que devíamos para os recursos que temos”.
Em termos pessoais, é essencial cultivar um estilo de vida que dê primazia à poupança de energia, bem como “fazer exercício físico, combater a obesidade, controlar a pressão arterial e o colesterol”.
Ao longo da conversa, Hélder Dores abordou ainda a questão da poluição e do desperdício provocados pela própria área da saúde, bem como as conclusões retiradas do Fórum da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, realizado a 10 de fevereiro, que juntou vários especialistas para discutir precisamente o efeito das alterações climáticas na doença cardiovascular.
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