Novos ensaios clínicos realizados por investigadores do King’s College, no Reino Unido, mostraram que uma injeção do medicamento Benralizumab durante uma crise de asma severa ou em pessoas com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é mais eficaz no tratamento e alívio dos sintomas do que as terapias convencionais – utilizadas nas últimas décadas – à base de comprimidos de esteroides. As novas descobertas, publicadas sob a forma de um estudo na revista The Lancet Respiratory Medicine, são os primeiros avanços científicos no tratamento da doença nos últimos 50 anos.
Para o ensaio clínico foram analisados os registos médicos de 158 pessoas em necessidade de assistência médica devido a uma crise de asma eosinofílica ou com DPOC. Os doentes foram submetidos a análises sanguíneas e divididos em três grupos – com diferentes tipos de tratamento – de forma a comparar a eficácia das diferentes medicações. O primeiro grupo recebeu uma injeção de benralizumab, o segundo recebeu o tratamento atualmente utilizado nestes casos (à base de esteroides) e o terceiro uma injeção de benralizumab e esteroides.
As conclusões do ensaio – que contou com a participação dos hospitais da Universidade de Oxford, Guy’s e St Thomas – revelaram que administrar aos doentes o medicamento benralizumab foi mais eficaz no tratamento e alívio dos sintomas de uma crise grave de asma ou de Doença Pulmonar Crónica (DPOC) – como tosse, pieira ou falta de ar – e reduziu, em 30%, a necessidade de tratamentos posteriores. Cerca de 28 dias depois da injeção do medicamento foi possível verificar melhoras significativas nos sintomas da doença e, 90 dias depois, constatou-se que o número casos em que este medicamento não foi eficaz foi quatro vezes menor do que no grupo que recebeu esteroides.
O benralizumab é um medicamento monoclonal que tem como alvo específico os glóbulos brancos – chamados de eosinófilos – responsáveis por invadir os pulmões de pessoas com asma do tipo eosinofílica e provocar o inchaço e o encerramento das vias respiratórias. Até agora era muito utilizado, em doses baixas, no tratamento de crises de asma grave, mas este novo ensaio concluiu que uma dose única, mais elevada, pode ser mais eficaz se injetada na altura de um surto. “O Benralizumab é um medicamento seguro e eficaz já utilizado no tratamento da asma grave. Utilizámos o medicamento de uma forma diferente – no momento de uma crise grave – para mostrar que é mais eficaz do que os comprimidos de esteroides, que é o único tratamento atualmente disponível”, explicou Mona Bafadhel, uma das autoras do estudo.
Segundo a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, em Portugal, estima-se que cerca de 600 mil pessoas tenham asma, das quais 11% são crianças e 5% adultos. Já dados apresentados no estudo revelam que metade dos casos de asma registados mundialmente são de tipo eosinofílico e causam cerca de 3,8 milhões de mortes anualmente. “Temos de oferecer a estes doentes opções que lhes salvem a vida antes que o seu tempo se esgote”, explicou Sanjay Ramakrishnan, que esteve envolvido no estudo. O tratamento para a asma e DPOC que tem sido feito nas últimas décadas, com recurso a comprimidos de esteroides, para além de nem sempre funcionar e levar o doente a procurar tratamento hospitalar, tem alguns efeitos secundários graves – incluindo o aumento do risco de diabetes e da osteoporose.
Este estudo registou ainda uma melhoria significativa da qualidade de vida das pessoas com ambas as doenças. “Esperamos que este estudo mude a forma como as crises são tratadas no futuro, acabando por melhorar a saúde de mais de mil milhões de pessoas que vivem com asma e DPOC em todo o mundo”, disse Bafadhel.