Os mais velhos sofrem, regularmente, com a chegada do inverno, já que é uma altura em que deixam de poder passear ao ar livre, apanhar vitamina D, ou socializar da mesma forma. Os estudos mais recentes relativos à prevalência da depressão nos idosos, incluindo um realizado por uma equipa de portugueses, indicam que mais de um em cada dez idosos sofre desta doença, o que equivale a uma percentagem de cerca de 12%, e cerca de 10% sofre de ansiedade.
À VISÃO, Marina Lopes, CEO e fundadora da Lares Online, uma plataforma gratuita de referenciação de lares que apoia as famílias na procura e seleção do lar ideal para os mais velhos, afirma que este cenário é “preocupante e não deve ser ignorado”, acrescentando que “os número reais devem ser mais elevados do que o que revelam os dados, já que “tudo indica que a depressão na terceira idade é bastante frequente”.
De acordo com Marina Lopes, o mau tempo e os dias mais curtos e frios típicos do inverno aumentam este número, sendo a depressão sazonal um problema muito comum nas pessoas mais velhas.
“Este é um distúrbio que surge em momentos de maior frio, com menos luminosidade durante o dia e com menos possibilidade de fazer atividades ao ar livre”, explica. “O simples ato de passear pela rua é algo que permite a um idoso sentir-se mais autónomo e feliz. Como durante o inverno isto torna-se mais difícil, é normal que a sua tristeza aumente”, diz ainda.
Questões como a solidão e a desconexão com a família também se tornam mais presentes durante a época de mau tempo, alerta a especialista. De acordo com um estudo realizado pelo Observatório da Solidão, 70% dos idosos afirmam que se sentem sós. “Basta olhar para este número para conseguirmos perceber que a população sénior portuguesa precisa do apoio de família, amigos e profissionais de saúde. Apoio constante”, afirma Marina Lopes.
Depressão sazonal pode ser confundida com demência. Os sinais importantes
Marina Lopes explica que, no inverno, “é habitual que as famílias confundam os sinais de depressão sazonal com demência”. “Existem depressões na terceira idade por diagnosticar, e deixar passar o tempo, ignorando sinais alarmantes, é bastante prejudicial”, acrescenta. Por isso mesmo, é essencial saber diferenciar as duas situações.
“É fundamental prevenir esta doença e, não conseguindo prevenir, o diagnóstico precoce faz toda a diferença. As famílias e os profissionais de saúde não podem, de todo, descurar o importante papel que a saúde mental tem no bem-estar do idoso. E nós, enquanto sociedade, temos de conseguir proteger a nossa população e garantir que fazemos tudo para que estes se sintam bem”, defende a especialista.
Juntamente com a depressão, que está intimamente ligada à ansiedade, os idosos podem passar por vários problemas físicos, como o enfraquecimento do sistema imunitário, dores no corpo (costas, ombro, pescoço), dores de cabeça, formigueiro (braços ou pernas), insónia, problemas cardíacos ou respiratórios (asma, bronquite), dermatites, perturbações no sistema digestivo (diarreia, refluxo, azia), explica Marina.
E existem vários sinais que podem ajudar a identificar esta perturbação sazonal e que devem receber especial atenção, caso contrário pode ocorrer um declínio cognitivo abrupto e, muitas vezes, irreversível nos mais velhos. “Mudanças repentinas de humor, como irritabilidade, agressividade, afastamento e desconexão súbita ou aumento de queixas sem motivo aparente e repetição de conversas ou de tarefas, ou seja, esquecimento, que tantas vezes é ignorado e associado “simplesmente” à passagem da idade” são alguns dos sinais importantes”, diz Marina Lopes.
Também devemos estar atentos às “variações de peso repentinas, tanto de perda como de ganho de peso, já que o idoso pode, por um lado, perder o apetite devido à tristeza e, por outro lado, ganhar um desejo enorme por alimentos ricos em hidratos de carbono, como pão, batata ou arroz” e à “tristeza profunda, associada à melancolia e desmotivação para todas as tarefas, que não deve ser ignorado nem confundido com a “velhice””, alerta ainda.
O cansaço excessivo, com o idoso a dormir muito mais do que o costume, também é um sinal importante, juntamente com um maior cansaço e desmotivação relatado pelo próprio. E situações como “crises de choro, diminuição da autoestima, negligência de cuidados pessoais ou apatia também indicam depressão sazonal”, acrescenta Marina Lopes.
Como podemos ajudar os mais velhos
“Temos de acompanhar os nossos familiares idosos. É importante estarmos lá para eles, ouvi-los, visitá-los, garantir que estes não se sentem isolados ou desconectados do mundo”, refere a especialista. “Idosos que estejam em lares, por exemplo, merecem continuar a receber visitas, a ter acesso à sua família e amigos. O acompanhamento e o cuidado são essenciais para ultrapassar a depressão sazonal”, garante.
Além disso, é essencial que a dieta alimentar dos mais velhos seja equilibrada, à base de fruta, verduras, proteínas magras e gorduras saudáveis, “que enriqueça o cérebro e o ajude a regular a parte hormonal”. “Manter uma boa alimentação ajuda a regular o humor, a prevenir esquecimentos e a manter a energia”, refere Marina Lopes.
Manter a atividade também é fundamental e, neste ponto, a especialista refere que é essencial que as famílias e os profissionais que lidam diariamente com os mais velhos – se estiverem em lares – incentivem o “exercício físico diário, para que se mantenham independentes nas suas tarefas do dia-a-dia”. É essencial, por isso, confiar em profissionais de saúde e criar um plano adaptado ao idoso, para garantir a sua autonomia.
“Ligado a este ponto da autonomia, destaco a importância de levar o idoso a manter a sua independência e a procurar o seu propósito de vida. Todos nós precisamos de nos sentir motivados, precisamos de sentir que existe uma meta para as nossas ações. Sem este propósito, parece que não há bons motivos para continuarmos a tentar fazer algo”, acrescenta Marina, referindo ainda que, se conseguirmos ajudar os mais velhos a perceberem “a sua importância para nós, para a sociedade e para a população ativa, estamos a ajudá-los a combater a tristeza”.
“Famílias, lares e profissionais do setor da terceira idade devem incentivar os idosos a terem hobbies e projetos que lhes tragam prazer e, claro está, propósito”, remata.