A depressão sazonal, ou Transtorno Afetivo Sazonal, acontece com a mudança de estação, principalmente no outono e inverno, quando os dias frios, cinzentos e chuvosos começam a ser mais habituais. Contudo, e muito raramente, pode aparecer na primavera ou verão.
Este estado costuma terminar quando regressam os dias mais solarengos, mas não significa que não seja um problema coplexo e não mereça atenção.
Isto porque, de acordo com Michelle Riba, professora de psiquiatria e diretora do Centro de Depressão da Universidade do Michigan, nos EUA, a depressão sazonal, além de ser um componente de depressão, pode indicar também bipolaridade ou outros problemas de saúde mental. “Para pessoas que todos os anos têm um padrão regular de tristeza, ansiedade e humores cíclicos, a primeira coisa que precisam de fazer é consultar alguém para fazer um diagnóstico,” disse ao Huffington Post, em 2015.
Na verdade, os sintomas de depressão sazonal são muito semelhantes aos que se observam em pessoas com depressões major ou crónicas, embora menos agudizados, e incluem a mundaça no apetite e dores de cabeça, mas também sentimentos crescentes de agitação e ansiedade.
Contudo, “algumas características têm sido mais associadas a este tipo de depressão, como a falta de energia, o aumento do sono – a chamada hipersonia – maior apetite e aumento de peso”, explica à VISÃO Diogo Telles Correia, médico psiquiatra, psicoterapeuta e professor na Faculdade de Medicina de Lisboa. Pelo contrário, diz, “os tipos clássicos de depressão são associados frequentemente a insónia e falta de apetite”.
Norman Rosenthal, psiquiatra e líder da equipa que investigou e descreveu o Transtorno Afetivo Sazonal pela primeira vez, diz que a alteração do clima faz toda a diferença no estado de espírito das pessoas. “Quando temos um verão quente, ensolarado e seco e um inverno nublado e escuro, é quando a sazonalidade do problema se torna mais aparente”, explica ao The Guardian.
O especialista, que é também autor do livro Winter Blues, Everything You Need To Know To Beat Seasonal Affective Disorder (em tradução livre, Tristeza de Inverno, tudo o que precisa de saber para combater o Transtorno Afetivo Sazonal), sofre, ele próprio, de depressão sazonal. Foi pioneiro nos tratamentos com Terapia da Luz, que consiste na exposição dos pacientes a luz artificial semelhante à luz solar, com a utilização de aparelhos específicos.
Saber tratá-la
Segundo Diogo Telles Correia, toda a depressão no geral é mais comum no outono e inverno e isto acontece devido ao “efeito que a luz tem sobre alguns sistemas de neurotransmisores, como a serotonina, e sobre a melatonina”, conhecida por hormona do sono, que ajudam a regular o ritmo circadiano. Contudo, o psiquiatra alerta para o facto de os mecanismos específicos destas relações serem ainda pouco conhecidos.
O primeiro passo para se tratar a depressão sazonal é, em primeiro lugar, levar o problema a sério. “Não é algo para se rir ou brincar. É um problema de saúde significativo”, explica Michelle Riba. Também Norman Rosenthal alerta para a necessidade de valorização desta doença. “Levar a sério é sempre o meu primeiro conselho ”, diz.
Os casos mais graves podem exigir a prescrição de antidepressivos e terapias cognitivo-comportamentais mas, normalmente, consegue tratar-se com Terapia da Luz, uma das soluções mais eficazes (e mais naturais). Especialistas dizem que esta técnica ajuda o corpo a corrigir o ritmo circadiano e a produzir hormonas mais comuns em épocas mais solarengas, o que as vai tornar menos infelizes.
No dia-a-dia, o que se deve fazer é conseguir o máximo de luz possível: abrir as cortinas, ter mais luz artificial em casa, sair sempre que se possa de espaços fechados e ir almoçar fora, por exemplo, já que a luz natural vai ajudá-lo a dormir melhor de noite. Além disso, toda a luz solar que se conseguir obter durante o dia vai ajudar o corpo a produzir mais vitamina D.
Mais comum em países nórdicos e nas mulheres
Pessoas que vivem em climas mais frios e cinzentos são mais suscetíveis a ter depressão sazonal. Nos EUA, os estados do norte têm maiores percentagens de pessoas com depressão sazonal que os estados do sul, segundo a Universidade da Califórnia.
E, quanto mais para norte se for, mais sombrios são os dias e a probabilidade de se ter esta doença aumenta. De acordo com o Met Office, o serviço nacional de meteorologia do Reino Unido, existem partes do norte da Escócia que recebem, em média, apenas 64 minutos de sol por dia.
Vários estudos mostram, também, que as mulheres têm maiores taxa de depressão que os homens, incluindo depressão sazonal, como reportou o New York Times. Os homens não estão, no entanto, imunes. A depressão não discrimina e pode afetar qualquer género ou raça.
Também pessoas que já tenham história familiar de depressão (pais, irmãos ou outros familiares com a doença) estão mais suscetíveis a ter este tipo de depressão, afirma Diogo Telles Correia.