A Associação Americana do Coração publicou recomendações sobre uma doença apenas recentemente reconhecida, a síndrome cardiovascular-renal-metabólica. Esta é a primeira vez que a patologia é definida medicamente, tendo sido caracterizada como a sobreposição de sintomas provocados pela ligação entre a insuficiência renal, diabetes tipo 2 e obesidade. O alerta, publicado na revista Circulation da Associação Americana do Coração, recomendou a utilização de uma nova ferramenta de forma que seja possível prever a probabilidade de uma pessoa vir a sofrer um ataque cardíaco, AVC e/ou insuficiência cardíaca, dentro de dez a trinta anos.
A síndrome, que atinge quase todos os principais órgãos do corpo – incluindo o coração, cérebro, rins e fígado – parece ter um maior impacto no sistema cardiovascular dos doentes por afetar os vasos sanguíneos, a função do músculo cardíaco e a taxa de acumulação de gordura nas artérias, fatores fundamentais para a saúde cardiovascular. Desde modo, a síndrome é considerada uma consequência da prevalência de condições como a obesidade, diabetes tipo 2 e predisposições metabólicas, em adultos e jovens. Todos fatores de risco que podem levar ao surgimento de doenças cardiovasculares que, quando não tratadas, podem resultar na morte do doente.
“A recomendação aborda as ligações entre estas doenças, com especial incidência na identificação de pessoas nas fases iniciais da síndrome”, explicou Chiadi E Ndumele, diretor para a Investigação de Obesidade e Metabolismo Cardíaco da Divisão de Cardiologia do Hospital Johns Hopkins, em Baltimore. O rastreio destina-se sobretudo a detetar, de forma atempada, alterações cardiovasculares, metabólicas e renais, de forma a ser possível prevenir o avanço para a fase seguinte da doença.
Os sintomas da síndrome cardiovascular-renal-metabólica podem variar consoante a gravidade e são distinguidas cinco fases diferentes que vão desde o estágio zero ao quatro – dividido em quatro A e quatro B. Enquanto nas primeiras fases o acompanhamento é importante para controlar a progressão da doença, a síndrome é especialmente severa nas fases seguintes.
Durante a fase três, uma das mais graves, o objetivo é a intensificação de cuidados médicos nos pacientes que apresentem um elevado risco de progressão para doenças cardiovasculares e insuficiência renal. O seu tratamento passa, sobretudo, pela prevenção dos sintomas, pela implementação de mudanças para um estilo de vida saudável e por ajustes na medicação. Esta é ainda a última fase da síndrome em que ainda se pode vir a assistir a uma regressão da doença, por melhorias no controlo de glucose no sangue, colesterol e pressão arterial.
Por fim, a fase 4 da síndrome divide-se em duas subcategorias, quatro A – onde não existe insuficiência renal e 4B, com insuficiência renal. Nesta fase última fase os pacientes podem já ter experienciado um AVC, insuficiência cardíaca ou até mesmo apresentar outras doenças cardiovasculares. O objetivo do seu tratamento passa por atenuar a condição cardiovascular da doença, dado o estado avançado da mesma.
Apesar da recomendação ser especialmente direcionada para o cuidado da síndrome em adultos, outros estudos desenvolvidos na área sugerem que a síndrome é uma doença progressiva e que pode começar desde cedo, em jovens e até mesmo crianças.