“Infelizmente, nenhuma informação oficial chegou sobre como vai decorrer o processo de vacinação sazonal contra a gripe e a COVID-19.” Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, insurge-se contra a falta de orientações das autoridades de Saúde.
Tudo o que “sabemos”, diz, foi “através da comunicação social”, quando o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, anunciou que as pessoas com “60 anos ou mais” vão ter acesso gratuito a ambas as vacinas.
A campanha de vacinação tem início a 29 de setembro, segundo anunciou Fernando Araújo, diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde, mas a regulamentação sobre os grupos prioritários ainda não foi anunciada pela Direção Geral da Saúde (DGS). “Não sabemos se, por exemplo, as grávidas ou os bombeiros, vão fazer parte dos grupos de risco. “Exortamos a DGS a dizê-lo o mais depressa possível”, afirma Tato Borges.
Fonte da DGS contraria, à VISÃO, esta abordagem dizendo que a “norma que estipula os grupos de risco costuma ser publicada uma semana antes” do início da campanha, acrescentando ainda que os grupos de risco “são os mesmos há anos, com pequenos ajustes quando é necessário fazê-lo e que, estes, significam um pequeno número de pessoas, já que grande maioria dos vacinados é abrangida pelo fator idade”.
A DGS refere que “as normas serão publicadas com a antecedência necessária ao início da vacinação, calendarizada para o dia 29 de setembro”, e que, “tal como no passado, a publicação das normas não comprometerá o inicio da vacinação”.
Mas há mais dúvidas na cabeça do médico de Saúde Pública, que se mostra ainda surpreendido por não se saber se outros grupos podem ser vacinados. “Imagine que alguém, fora dos grupos prioritários, quer tomar a vacina contra a Covid-19. Será que o médico de família poderá prescrever a vacina contra a Covid-19, assim como o faz para a vacina contra a gripe?”, pergunta.
A questão é tanto mais complexa, que põe em causa outros fatores. É que a vacina para o SARS-CoV-2 foi, até agora, comprada em conjunto pelos países da União Europeia e administrada de forma gratuita. Nunca foi introduzida comercialmente no mercado, como a da gripe.
Para Tato Borges, a DGS tem de clarificar o que se vai fazer durante a campanha de vacinação sazonal e acrescenta que “esse planeamento tem de dizer inicialmente se a vacinação contra a Covid-19 vai ser alargada a outros grupos etários” – recorde-se que, no ano passado, os grupos etários foram decrescendo à medida que mais pessoas se vacinavam.
Isto porque, lembra o médico, em 2022, “muitas pessoas diziam”: “sobraram vacinas e agora querem vacinar-me a mim”. O que, argumenta, só dá lastro aos “movimentos anti-vacinas que por aí andam”. O médico aponta que “esta não pode ser a mensagem que a DGS passa para a sociedade, têm de ser definidos os critérios à priori, antes de se iniciar a campanha vacinação”.
A VISÃO apurou, junto da DGS, que “não é provável” que se alargue a vacinação contra a COVID-19 a outras faixas etárias, no entanto, ressalva, que a dinâmica do vírus e a “situação epidemiológica” pode levar a alterações.
Este ano, a vacinação sazonal contra a Covid-19 vai, também, decorrer nas farmácias comunitárias, como já acontece com a vacina da gripe. A Portaria n.º 264/2023, de 17 de agosto, estabelece o modelo de funcionamento e adianta que será feita “com vacinas adaptadas às estirpes do vírus SARS-CoV-2 em circulação”.