Há quem sinta grandes dificuldades em dizer “não” – a VISÃO já abordou o tema anteriormente -, situação que pode criar muita ansiedade e situações de desconforto, o que acaba por afetar negativamente vários campos da vida, pessoal e profissional.
Por outro lado, também existem pessoas com elevada tendência para se explicarem em demasia, o que os especialistas dizem ser, muitas vezes, estratégias de coping, utilizadas para lidar com momentos considerados de tensão.
Estas estratégias acontecem ao nível cognitivo e comportamental e servem, precisamente, para fazer face a situações de “ameaça” que provocam ansiedade extrema, internas ou externas. Para muitas pessoas, estes mecanismos, que incluem dar explicações excessivas sobre determinada situação, são uma maneira muito eficaz de aliviar o stress e outros sentimentos desconfortáveis.
“As pessoas com este tipo de comportamento são normalmente pessoas inseguras, que tendem a querer agradar demasiado aos outros de forma a sentirem-se aceites e amadas, não sabendo lidar com o desagrado, ou tendo dificuldade em conviver com o facto de não termos, nem devermos, sequer, agradar a toda a gente”, explica à VISÃO Andrea Moniz, psicóloga clínica no Centro de Psicologia Dra. Andrea Moniz, em São Domingos de Rana, Cascais.
“Se eu tenho a minha personalidade definida, ainda que possa ser uma pessoa flexível, empática e compreensiva, tenho os meus valores, princípios e prioridades que podem colidir com os outros e não há mal nisso”, acrescenta a especialista, referindo que estas formas de “enfrentar” os outros fazem “parte das diferenças individuais que todos temos e da maturidade e crescimento interior de cada um de nós enquanto pessoas”.
Andrea Moniz explica que, para as pessoas que se justificam em demasia, é muito complicado saber aceitar essas divergências, sem que sintam que haverá “obrigatoriamente” um conflito por isso. “Nem todos têm de gostar de mim, como eu também não tenho de gostar de toda a gente. Quem diz o contrário mente, ou só pode estabelecer relações pouco profundas, que não chegam sequer ao ponto do conflito por serem tão superficiais”, defende a psicóloga.
Para a especialista, a justificação em excesso, nestes casos, “é uma forma imatura de se desculpar daquilo que muitas das vezes não tem necessidade sequer de desculpa”, o que, inevitavelmente, “cria um vazio profundo nas relações” e, consequentemente, um sentimento de solidão, devido à “falta de autenticidade”.
O que fazer, então, para não sentirmos necessidade de nos justificarmos tanto?
“Dizer a verdade com afeto, é esse o caminho”, afirma Andrea Moniz. E realizar um acompanhamento de psicoterapia, para que seja mais fácil entender os motivos que levam as pessoas a justificarem-se de forma excessiva, tendo sempre em conta de que cada caso é específico e individual.
Segundo a psicóloga, é essencial que essas pessoas percebam “realmente quem querem mesmo agradar e porquê, curarem feridas antigas, normalmente de infância, do crescimento e das relações parentais e fraternas e, a partir dessa compreensão interna, reconstruírem-se como adultos”.
Mudar este comportamento vai ser muito benéfico para quem sofre com a constante necessidade de se justificar, acrescenta ainda Andrea Moniz. “A liberdade interior que se alcança, uma vida mais plena, ser amigo de quem realmente gosta de nós, mas também saber estar só, viver a solidão consigo próprio com naturalidade e sem desespero”, refere.
“A atitude verdadeira, se aproxima os verdadeiros amigos, também afasta os hipócritas e deixa-nos sós, muitas vezes. Mas isso não é mau, é uma aprendizagem e um caminho, que se quer ou não fazer”, remata a especialista.