Sentirmo-nos stressados num dia mais intenso de trabalho não é anormal nem um sinal de alarme por si só. Em entrevista à VISÃO, Maria Veludo Chai, psiquiatra do Hospital CUF Tejo, em Lisboa, explica que o “stress não é sinónimo de doença e, muito menos, de doença mental”, relacionando-se “com fatores ambientais, atuais, externos ao indivíduo”.
O problema, afirma a especialista, começa quando o stress se torna “intenso, frequente e crónico, por predispor a doenças mentais como a ansiedade e a depressão ou, sendo no contexto laboral, ao burnout”.
Este último, também definido como Síndrome de Burnout, corresponde a um estado de esgotamento físico e mental que está relacionado com a profissão. Acontece quando o trabalho exige, ao nível físico, emocional e cognitivo, certas capacidades ou comportamentos com as quais uma pessoa já não consegue lidar de forma saudável. Ou seja, é uma resposta à exposição a um stress laboral crónico, em que a pessoa sente que não consegue arranjar estratégias para lidar com esse stress. E há vários fatores de risco que contribuem para se chegar a esse estado, explicam os especialistas, tal como o excesso de trabalho, o assédio psicológico e a falta de apoio por parte das chefias, por exemplo.
Na esfera profissional, o stress é cada vez mais um tema, como mostram os dados mais recentes divulgados pela Ordem dos Psicólogos Portugueses: em dois anos, os problemas psicológicos aumentaram 60% e terão custado às empresas até 5,3 mil milhões de euros.
O stress frequente e crónico torna-se ainda um fator de risco para o aparecimento de outras doenças, como as cardiovasculares, neurológicas e metabólicas. Problemas como a síndrome do cólon irritável, o refluxo gastroesofágico, as úlceras, a diabetes, a queda de cabelo, entre outros, “atingem um grande número de pessoas”, garantiu ainda Marta Chai.
Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que o burnout ia passar a estar incluído na sua classificação internacional de doenças, a partir do primeiro dia de 2022, surgindo na secção dos problemas associados ao emprego e desemprego e sendo descrito como “uma síndrome resultante de stress crónico no trabalho que não foi gerido com êxito”.
Já a depressão é um estado ainda mais complexo, com origem em experiências traumáticas ou biológicas, ou até ambas. Como os seus sintomas – irritabilidade, tensão, agitação, diminuição da energia e fadiga, alterações da concentração, memória e raciocínio, por exemplo – podem ser atribuídos a outras causas, esta doença pode passar despercebida.
As situações de burnout não tratadas podem conduzir a depressão, como consequência das situações de stress no trabalho que vão criando grandes sentimentos de descontrolo e impotência. Para as duas, é importante que se faça um acompanhamento psicoterapêutico e, por vezes, sobretudo quando se trata de depressão, é necessário intervir com medicação.
Mas nem sempre uma situação de depressão decorre de um estado de burnout. Os especialistas afirmam que o fundamental é não adiar o acompanhamento, para se conseguir realizar rapidamente o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento.
Ao Daily Mail, Gillian McMichael, professora de meditação em Edimburgo, Escócia, falou sobre a importância de reconhecer as diferenças entre burnout e depressão, acrescentando que, como o termo burnout se tornou numa “palavra da moda”, existe o risco de as pessoas o usarem de maneira incorreta. “Acho que muitas pessoas podem confundir burnout e depressão. Temos de ter cuidado para não nos auto-diagnosticarmos em demasia”, afirmou.