Contrariar, orientar, questionar e controlar são das piores coisas que os pais podem fazer aos filhos pequenos, incluindo os adolescentes. Se a todas essas oposições os progenitores lhes juntarem muito mimo, afeto e preocupação, estarão a zelar por um futuro adulto com menos problemas de saúde.
Passar anos decisivos da educação e formação de uma pessoa, como a infância e adolescência, em ambientes minados de stress irá influenciar o organismo daí a alguns anos, mas o tal controlo e limites impostos pelos mais velhos podem combater esses efeitos.
No fundo, o que conclui um novo estudo feito na Universidade da Geórgia (UGA), nos EUA, é que ser um pai protetor pode preparar os filhos para uma vida mais saudável. A investigação descobriu que crescer em locais onde os tiroteios são comuns e o calor e a eletricidade não são de fiar poderão potenciar o aparecimento de dores e outras limitações de saúde física na idade adulta. Mas, quando os pais conhecem o meio em que o seu filho se move, quem são os seus amigos e o que faz depois das aulas, por exemplo, poderá ter um efeito benéfico.
“As primeiras experiências de vida realmente afetam o bem-estar físico e mental ao longo da nossa vida”, disse Kelsey Corallo, principal autora do estudo e recém-doutorada pelo departamento de Psicologia da UGA. “Mesmo que não tenhamos muitas lembranças tangíveis desde muito cedo na vida, sabemos como nos sentimos, sabemos como fomos amados e apoiados, e essas coisas ficam gravadas.”
Estabelecer limites e deixar que os filhos saibam que os pais estão de olho neles reduz os riscos de problemas de saúde física e mental em adulto.
“Não se trata apenas ser o tipo de pais que sabem onde os seus filhos estão. Acho que demonstrar o quanto se gosta e ter vontade de fazer parte da vida do seu filho é provavelmente parte do ingrediente mágico da paternidade vigilante que beneficia a criança”, salienta Katherine Ehrlich, co-autora do estudo e professora associada do Colégio Franklin das Artes e Ciências.
O stress na infância pode afetar o funcionamento dos sistemas imunológico e nervoso.
O estudo analisou as respostas de mais de 4 800 entrevistados da pesquisa norte-americana que acompanhou milhares de pessoas desde a adolescência até aos 30 anos, aproximadamente. Os investigadores ficaram preocupados com a ligação encontrada entre crescer num ambiente menos seguro e limitações de saúde física na idade adulta.
Anteriores pesquisas já demonstraram como experiências geradoras de insegurança, como não conseguir recursos básicos para fazer face à vida quotidiana ou ser exposto a negligência ou abuso, “altera literalmente a forma como o corpo funciona”, na opinião de Kelsey Corallo.
A quantas mais situações de insegurança uma criança ou jovem for exposto, maior a possibilidade de surgirem problemas ao longo da vida na função imunológica ou regulação hormonal.
“Jovens e crianças tendem a ser saudáveis, por isso ao vermos uma associação estatística entre limitações físicas e riscos ambientais na infância é incrível. Isso mostra como essas coisas realmente importam e têm um efeito evidente na saúde, mesmo no início da idade adulta, quando as doenças crónicas ainda não apareceram”, acrescenta Kelsey Corallo.
Os participantes no estudo que cresceram em ambientes menos seguros, mas tiveram pais muito envolvidos nas suas vidas, não tiveram os mesmos problemas de saúde que os seus colegas sem pais vigilantes. A paternidade vigilante também foi associada a menos problemas de saúde mental tardios.
É provável que as crianças cujos pais lhes deram indicações para estarem cedo em casa e controlaram os seus grupos de amigos estivessem mais protegidas de comportamentos prejudiciais que poderiam ter efeitos ao longo da vida, como fumar ou beber demasiado.
Mesmo para os pais que estão menos tempo em casa, por terem dois trabalhos, por exemplo, e moram em bairro problemáticos, com violência, os filhos devem sentir que têm limites e que os mais velhos se preocupam com eles, de verdade. Por todas as razões importar-se, importa.