A rilmenidina, um fármaco prescrito para tratar a hipertensão, pode vir a ser usada para retardar o envelhecimento e aumentar a longevidade. A esperança nasce de um estudo realizado em vermes, liderado pelo português João Pedro Magalhães, durante a sua passagem pelo departamento de envelhecimento da Universidade de Liverpool, ele que entretanto se mudou para a de Birmingham, também em Inglaterra.
Especializado em biogerontologia molecular, ele e a sua equipa em Liverpool, com a colaboração de outros investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, nos EUA, e do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça, descobriram que a rilmenidina, quando administrada a vermes Caenorhabditis elegans, aumenta o tempo de vida destes animais muito populares em laboratórios científicos. O efeito verifica-se quando o fármaco é aplicado quer em idades mais jovens quer em idades mais avançadas, de acordo com o estudo publicado no jornal científico Aging Cell.
A investigação registou ainda melhorias em marcadores de saúde associados a uma maior esperança de vida, o que abre grandes potencialidades para a rilmenidina na ciência antienvelhecimento.
“Pela primeira vez, fomos capazes de demonstrar em animais que a rilmenidina pode aumentar a esperança de vida”, salienta João Pedro Magalhães, satisfeito com os resultados do estudo a partir de um fármaco já disponível no mercado. “Com uma população global envelhecida, os benefícios de retardar o envelhecimento, ainda que ligeiramente, são imensos. O reaproveitamento de medicamentos capazes de prolongar a vida e a saúde tem um enorme potencial por explorar.”
A rilmenidina replica os mecanismos de ação da dieta de restrição calórica, considerada a melhor forma de retardar o envelhecimento nas várias espécies, mas com o senão de apresentar efeitos secundários prejudiciais em humanos, segundo indicam vários estudos já realizados. Com este composto anti-hipertensão, presente num medicamento de prescrição bastante comum e, por isso, já amplamente testado, esse problema não existe, uma vez que os efeitos colaterais são raros e sem gravidade.
O próximo passo é testar a rilmenidina em humanos, através de ensaios clínicos que possam demonstrar (ou não) os seus benefícios na medicina antienvelhecimento.