O que faz para tentar adormecer, caso tenha dificuldade em fazê-lo? Ouve música calma, medita, vê televisão ou ouve um podcast? Tudo menos algo assustador para não ter pesadelos, certo? Existe a teoria de que se virmos alguma coisa de suspense podemos ficar a pensar nela e isso causar dificuldades durante a noite. Mas uma equipa de investigadores da Universidade de Friburgo percebeu que isso não é bem assim.
Na verdade, os cientistas concluíram que assistir a thrillers cheios de suspense e a finais abruptos durante cenas críticas – denominados cliffhangers – que resultam em enredos inacabados, e que podem aumentar ainda mais a excitação cognitiva, têm pouco impacto na qualidade do sono e podem até ajudar a adormecer. As conclusões foram publicado na revista Sleep Medicine.
No estudo foram analisados 50 jovens adultos, com idade média de 23 anos, que assistiram a três episódios antes de dormir, durante duas noites, num laboratório especialmente idealizado para a experiência. Metade dos participantes, numa das noites, viu programas de suspense na Netflix, como How to Get Away with Murder, Orphan Black, Sense8 e The Sinner. Na outra noite viram o documentário Islands of the Future, onde as comunidades que vivem na costa da Europa continental lidam com questões energéticas.
Os cientistas conseguiram perceber se os participantes estavam nervosos ou não através da medição da frequência cardíaca e os níveis de cortisol [hormona que ajuda a responder a momentos de stress], além de conversarem com os voluntários, perguntando o quão stressados estavam, em vários momentos. Enquanto dormiam, os sensores registavam a atividade cerebral, a frequência cardíaca, o movimento dos olhos e a respiração, todos indicando a fase e a qualidade do sono. Na manhã seguinte, os participantes foram convidados a avaliar a qualidade do sono e a rapidez com que pensavam que tinham adormecido.
Embora o stresse aumentasse ao assistir séries cheias de suspense, a qualidade do sono dos participantes permaneceu inalterada, sem que o tempo total de sono ou o número de despertares diferissem significativamente entre os grupos. “Apesar da alta excitação no pré-sono, os participantes adormeceram mais rapidamente depois de assistir ao suspense em comparação com a série de TV neutra”, escreveram os cientistas.
Os dados mostram que as pessoas que viram as séries assustadoras e com um cliffhanger adormeceram após 19 minutos e 13 segundos, mais rápido do que os 21 minutos e 20 segundos que tinha como referência do grupo de controlo. Já para os episódios sem cliffhanger, a equipa descobriu que as pessoas adormeceram 18 minutos e 51 segundos após um episódio de suspense, em comparação com 18 minutos e 39 segundos do grupo do documentário.
“Parâmetros objetivos do sono, como eficiência do sono, tempo total de sono, o controlo após o início do sono e proporção de sono REM , permaneceram inalterados na nossa experiência”, escrevem os cientistas. “Na verdade, a latência do início do sono (SOL) mostrou o padrão de resultado oposto: os participantes adormeceram mais rápido depois de assistir a três horas de uma série de TV de suspense em comparação com assistir três horas de um documentário sem suspense”.
Assim, a equipa de especialistas afirma que se pode concluir “que a excitação induzida por séries de TV de suspense com ou sem cliffhanger não leva a prejuízos na qualidade objetiva nem subjetiva do sono em adultos jovens saudáveis”.
Os investigadores ainda chegaram a outra conclusão: por outro lado, se o documentário não fosse apetecível para os participantes podia levar ao sentimento de tédio, fomentando sentimentos de frustração e raiva que prejudicam o sono. “Se o documentário não fosse interessante ou excitante para os sujeitos, poderia ter provocado esses estados afetivos negativos que podem ter atrasado o início do sono”, escrevem.