Uma nova investigação, conduzida por investigadores da Alemanha, Canadá e Japão, descobriu uma situação comum em que a capacidade de o ser humano distinguir o que é vertical e o que não é fica comprometida: quando o corpo se desloca verticalmente e se mexe ao mesmo tempo.
O estudo, publicado na revista científica Multisensory Research, baseou-se em cenários reais e não apenas em experiências laboratoriais, como explicaram os investigadores. “Ao contrário do que aconteceu em estudos deste tipo, que acontecem em laboratórios bem controlados, a nossa equipa viajou para Hong Kong para realizar pesquisas de campo” no Peak Tram, um funicular em Hong Kong que transporta turistas e residentes para os níveis superiores da ilha, conta, citado pela Science Daily, Chia-huei Tseng, autor principal da investigação.
A equipa realizou experiências em centenas de passageiros que subiram a montanha mais alta de Hong Kong, Victoria Peak, tendo em conta dois aspetos envolvidos nesta ação, a inclinação e o movimento do corpo. Foi a partir daí que conseguiram detetar a situação em que a perceção de verticalidade ficou distorcida.
Durante a viagem, os voluntários tiveram de segurar um dispositivo, construído com o auxílio de um arquiteto, que os ajudasse a indicar a sua percepção de verticalidade, a vertical háptica subjetiva (subjective haptic vertical (SHV), em inglês), ao longo da subida no Peak Tram.
Nas experiências de campo, a equipa detetou erros de percepção de 10 graus, situação que ainda não tinha sido relatada em estudos anteriores, afirmam os investigadores. De acordo com o grupo, em testes laboratoriais os humanos são capazes de indicar a SHV com um erro de menos de 1 grau.
Com o objetivo de perceber porque é que estes erros aconteciam, a equipa pediu, então, aos participantes que fechassem os olhos durante a viagem. Após as influências visuais desaparecerem, os investigadores colocaram uma espécie de encosto anatómico entre as costas dos voluntários e as cadeiras onde estavam sentados. O objetivo aqui era descartar os efeitos do sistema vestibular, essencial ao nível da manutenção da postura, equilíbrio e perceção do movimento do corpo.
A equipa percebeu que nenhuma das duas mudanças teve grande influência na diminuição dos erros encontrados. Por isso, decidiu realizar as experiências noutro local em Hong Kong, o Ding Ding Tram, que funciona da mesma forma e a velocidades semelhantes ao Peak Tram, mas numa superfície relativamente plana. Os investigadores deram conta de que não tinham sido detetados erros nestas circunstâncias, nas duas situações.
A capacidade de perceção daquilo que é vertical é essencial, já que sem ela não estaríamos aptos a realizar ações tão simples como segurar um copo de água. Tseng afirma que este estudo é um grande exemplo de investigação científica e Tohoku Gakuin, investigador também envolvido no estudo, alerta para a importância da percepção da verticalidade em ações do quotidiano. “A incapacidade de sentir com precisão a orientação do corpo em relação à gravidade pode resultar em movimentos inadequados ou quedas, além de prejudicar funções diárias como caminhar, subir escadas e pegar numa bandeja. Em tarefas especializadas, como conduzir ou pilotar um avião, esta falha pode ser desastrosa”, esclarece.