É chegado o tempo delas: as intempéries e as infeções respiratórias sazonais. O período epidémico da gripe já começou, as idas às urgências também. Porém, a cobertura vacinal para o SARS-CoV-2 é bem mais robusta do que a verificada no Natal passado e o fim das máscaras tornou-se uma realidade, embora a pandemia ainda não tenha acabado.
Com o fim do estado de alerta, em vigor desde outubro, já não há obrigatoriedade de fazer testes – eram gratuitos e estavam associados a um período de confinamento, com a comparticipação da Segurança Social – e a vigilância epidemiológica passou a ser feita sobretudo para as formas mais graves, em pessoas internadas.
É desta que podemos voltar aos convívios sociais da quadra natalícia e estar com as nossas pessoas, sem grandes sobressaltos? Nesse caso, fará sentido realizar testes rápidos 2-em-1?
Mais vale prevenir
Os novo auto-teste antigénio para detetar Covid-19 e Gripe (Influenza) A ou B, numa única amostra, estão nas farmácias e nas grandes superfícies, como a rede de lojas Wells (com um custo de €2,99, ou, a partir de €1,79, para o auto-diagnóstico do vírus SARS-CoV-2), levam a supor que sim.
Segundo a marca de retalho nos segmentos de saúde, bem-estar e beleza do Grupo Sonae, “o procedimento é exatamente igual ao dos auto-testes de Covid-19 e difere apenas na possibilidade de detetar outros vírus”.
Tal como os que eram comercializados até aqui para realizar em casa, estes consistem numa cassete e uma zaragatoa para inserir nas narinas, só que a informação do resultado se aplica ao SARS-CoV-2 e às duas variantes do Influenza.
Raquel Guiomar, responsável pelo Laboratório Nacional de Referência para o vírus da Gripe e Outros Vírus Respiratórios do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), assegura que os auto-testes para agentes respiratórios motivam a adoção de medidas para prevenir o contágio, sendo “muito recomendadas para a Covid-19 e igualmente eficazes para a transmissão de outros vírus respiratórios como a gripe”.
Por detetarem vírus em amostras com maior carga viral no período da infeção com maior probabilidade de transmissão, através das gotículas de secreções respiratórias, os testes devem ser utilizados como medida preventiva, “especialmente em situações em que se prevê uma maior frequência de contactos, como aquelas que se irão viver nas próximas semanas”.
Medidas em ambulatório
Filipe Froes, pneumologista e especialista em medicina intensiva no Hospital Pulido Valente (Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte), reconhece que “a pandemia acelerou a acessibilidade a testes rápidos de diagnóstico na comunidade”.
A sua realização faz sentido sempre que se pretenda “confirmar ou excluir infeções (sobretudo por SARS-CoV-2) e prevenir a transmissão, protegendo os não vacinados e imunodeprimidos”.
Prevendo-se que a atual quadra festiva seja mais descontraída e segura do que a anterior, não será descabido, muito pelo contrário, que os autotestes façam parte do pacote dos preparativos, sempre que haja sintomas e dúvidas.
As vantagens são óbvias, as medidas também. A saber: “De acordo com as normas em vigor, se o teste der positivo, deve usar máscara e evitar contactos sociais de risco, para sua proteção e dos outros; se tiver sintomas e um resultado negativo, fica mais à vontade para estar com os seus; se repetir um teste que deu positivo e for, depois, negativo, sabe que já não é transmissor.”
Se for necessário, a interpretação pode ser complementada com a informação de um médico, tornando possível “o manejo da doença sem sobrecarregar as instituições de saúde”.
Cenário favorável
Por fim, o que dizer da atividade do vírus Influenza e do Vírus Sincicial Respiratório (VSR), que foi mínima, devido às medidas de proteção sanitária (máscaras, distanciamento social e afins), que podem ter diminuído a criação de defesas, como acontecia antes da Covid-19?
Os dados da terceira vaga de dados do Vacinómetro (projeto que monitoriza a vacinação contra a gripe sazonal em grupos prioritários durante a época gripal): dois terços dos portugueses (66,3%) com recomendação para a vacina da gripe já a terão recebido e, no subgrupo com 65 anos ou mais, a cobertura vacinal na amostra estudada (com 4049 participantes), foi de 79,4%, bem acima dos desejados 75%.
No que respeita à evolução da Covid-19, e segundo o relatório semanal do INSA referente ao período entre 5 e 9 de dezembro, estima-se que até 9 de dezembro tenham ocorrido 5 551 739 casos de infeção por SARS-CoV-2, com um valor médio do índice de transmissibilidade, ou R(t), de 0,89, a nível nacional (média de 484 novos casos por dia), podendo o seu verdadeiro valor variar entre 0,88 e 0,91 com uma confiança de 95%.