O micro-ondas causa cancro?
Mito.
Os eletrodomésticos como o micro-ondas são fabricados de acordo com normas de segurança de forma a apresentarem uma barreira segura contra a emissão de radiações potencialmente cancerígenas para o ambiente. É verdade que, apesar disso, ocorre sempre alguma pequena emissão, mas num nível mínimo tolerável e não muito diferente da emissão de outros aparelhos como os telemóveis, por exemplo. O mesmo se aplica ao aquecimento dos alimentos. Não existe nenhum estudo que estabeleça uma razão de causalidade entre o uso destes aparelhos ou a ingestão de alimentos aquecidos nos mesmos e o desenvolvimento de doenças oncológicas.
O cancro está relacionado com o consumo de açúcar?
Mito.
Todas as células, cancerígenas ou não, utilizam o açúcar (glicose) como fonte de energia. É verdade que alguns tipos de células cancerígenas apresentam maior quantidade de recetores para a insulina, sendo mais sensíveis do que as células saudáveis, à capacidade desta hormona de promover o seu crescimento. Esta hormona é produzida perante maiores quantidades de glicose no nosso organismo. Assim, a relação entre o açúcar e o crescimento tumoral é indireta e complexa, podendo este ser estimulado não pelo açúcar (glicose) em si, mas através da relação entre tumor, níveis elevados de insulina e de fatores de crescimento. Deste modo, o que está em causa é uma dieta excessiva, rica em açúcares, o que não se relaciona apenas com o cancro mas também com muitas outras doenças crónicas. Contudo, terá sempre de ser mantido um equilíbrio, pois a eliminação dos hidratos de carbono da nossa alimentação é causadora de stresse, o que contribui para a ativação de mecanismos que aumentam a produção hormonal e que podem elevar os níveis de glicose no sangue e prejudicar a função imunitária. Portanto, o fundamental é uma alimentação saudável na prevenção do cancro e outras doenças, no seu prognóstico e na qualidade de vida.
Usar telemóvel em excesso pode causar cancro?
Mito, mas…
Os efeitos da radiação sobre o corpo humano ainda não são totalmente conhecidos, sendo alvo de muitos estudos que decorrem por todo o mundo. O telemóvel emite uma radiação eletromagnética. Essa radiação tem uma frequência alta e como o telemóvel é usado muito próximo do corpo, em especial da cabeça, a maior parte dessas ondas são totalmente absorvidas pelo corpo humano. Os estudos desenvolvidos têm tido como foco uma provável relação entre o uso destes aparelhos e os tumores do sistema nervoso central (SNC). Há quem refira que o risco é ainda maior para crianças que utilizam os aparelhos cada vez mais cedo, em fase de desenvolvimento do cérebro. No entanto, estes estudos são de difícil realização e a relação de causa efeito é prejudicada pela baixa sobrevida dos doentes com este tipo de cancro. O aumento da incidência de cancro do SNC, sobretudo em crianças, tem movido responsáveis pela saúde pública em diversas partes do mundo. Assim, em 2017 as autoridades de saúde da Califórnia lançaram um guia para que as pessoas minimizem o uso dos telemóveis. Com base nas pesquisas realizadas até à data, classificou-se o campo magnético como possivelmente carcinogénico para os seres humanos, mas ainda não há evidências suficientes.
Ter um familiar com cancro significa que também se vai ter?
Mito, mas…
O cancro é uma doença genética, dado que resulta de várias alterações genéticas que vão ocorrendo ao longo de um período de tempo e que culmina num processo de carcinogénese. Assim, podemos dizer que o cancro tem íntima relação com o envelhecimento celular e com a acumulação de várias mutações com o passar dos anos (idade como fator de risco para a maioria das doenças neoplásicas), sendo a maioria dos casos esporádicos e sem relação familiar.
Para uma doença oncológica ser hereditária implica que exista uma alteração genética na linhagem germinativa (células germinativas), em genes responsáveis pela supressão tumoral ou pela proliferação celular. Dado se tratar de alterações genéticas presentes nas células germinativas, têm probabilidade de ser transmitidas entre gerações, sendo só dessa forma que essa informação passe de familiar em familiar. Quando esta situação está presente, usualmente verificam-se diagnósticos em idades muito precoces, com afetação de várias gerações dentro da mesma família e até de indivíduos com mais do que um tipo de cancro.
Contudo, é um campo de estudo, devendo ser sempre investigada a história familiar de cada indivíduo afetado e promovidos rastreios precoces a famílias com mais casos, mesmo que sem relação de hereditariedade estabelecida, dada uma possível propensão para cancro que até pode relacionada com algo ambiental em comum a todos aqueles indivíduos.
O stresse pode causar cancro?
Mito.
É, sem dúvida, um dos temas mais polémicos quando se fala sobre cancro. Não há, até à data, provas científicas suficientemente conclusivas sobre a possibilidade de o stresse estar na origem de doenças oncológicas. Os vários estudos realizados a esse respeito são contraditórios, não havendo um consenso entre a comunidade científica. O que sabemos é que o stresse em grau severo provoca fragilidade em várias funções no nosso organismo, nomeadamente a nível do nosso sistema imunitário (imunossupressão), tornando assim as nossas células mais suscetíveis a um fenómeno de carcinogénese, pois a imunossupressão é uma das múltiplas etapas necessárias para esse processo.
Os anticoncecionais orais podem causar cancro?
Mito.
A relação entre anticoncecionais e o cancro tem sido amplamente estudada, sobretudo em relação a cancros de origem ginecológica e cancro de mama.
O tipo de anticoncecionais usados tem vindo a mudar ao longo dos anos, com o uso de anticoncecionais com cada vez menores doses de hormonas e mais à custa de progesterona do que de estrogénios.
Até à data, entre vários estudos desenvolvidos, não existe nenhuma relação entre o uso de anticoncecionais e tumores ginecológicos.
A alimentação tem influência no cancro?
Mito, mas…
A alimentação é uma peça fundamental do nosso bem-estar, estando relacionada com múltiplas doenças, nomeadamente as plurimetabólicas, como hipertensão arterial, diabetes, hipercolesterolemia, doenças hepáticas e gastrointestinais.
Não existe uma relação direta entre um subtipo de alimentação e o cancro, mas sabemos que uma alimentação saudável, rica em legumes e frutas, com menor consumo de sal, açúcar e gorduras, com menor ingestão de alimentos processados, de carnes vermelhas é fundamental para um bom funcionamento do nosso corpo, podendo sempre ajudar como prevenção de doenças como o cancro assim como durante um processo de doença neoplásica. Apenas de referir que, por vezes, em estados avançados de doença onde fenómenos de caquexia já estão instalados pode ser necessário o consumo de alguns alimentos ditos não saudáveis para reforçar determinadas necessidades do organismo. Assim, é fundamental um apoio de nutrição especializado durante estas doenças (ex: cancros gastrointestinais, pâncreas, cabeça e pescoço…) para um melhor sucesso do bem-estar dos doentes.