Um novo estudo espanhol explorou o caso de uma profissional de saúde de 31 anos que contraiu o vírus da Covid-19 duas vezes num intervalo de apenas três semanas, o mais curto a ser registado desde o início da pandemia. Os testes realizados à mulher cujo nome não foi divulgado indicam que terá sido infetada uma primeira vez pela variante Delta no final de dezembro e uma segunda vez pela Ómicron no início de janeiro.
O caso registado destaca, segundo Gemma Recio do Institut Catala de la Salut, em Espanha, uma das autoras do estudo, o potencial da nova variante para se sobrepor a qualquer tipo de imunidade que possa ter sido criada por infeções passadas da Covid-19 ou pela própria vacina.
De acordo com os dados fornecidos, a profissional de saúde terá sido vacinada 12 dias antes da sua primeira infeção. A segunda infeção veio, por isso, salientar a elevada taxa de transmissibilidade da variante Ómicron, ou, “em outras palavras, as pessoas que tiveram Covid-19 não podem presumir que estão protegidas contra a reinfeção, mesmo que tenham sido totalmente vacinadas”, assegura a autora.
A variante Ómicron, que foi identificada pela primeira vez em finais do ano passado, já provou ser capaz de “evitar a imunidade anterior adquirida de uma infeção natural com outras variantes ou de vacinas”, como explica Recio, sendo inclusive a responsável por uma subida significativa na taxa de reinfeções. No caso do Reino Unido, por exemplo, registou-se um aumento de cerca de dez vezes nesta taxa, passando de 1% para 11%. Em Portugal tem vindo também a aumentar não apenas a taxa de reinfeção, mas o risco de transmissibilidade.
Apesar dos números, “tanto a infeção anterior com outras variantes como a vacinação parecem proteger parcialmente contra doenças graves e hospitalização nas pessoas que ficam infetadas com a Ómicron”, explicou Recio durante o Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infeciosas, em Portugal. A vacinação ou uma infeção passada são, segundo o testemunho da imunologista Eleanor Riley à BBC, uma forma eficaz de impedir que o vírus cause danos sérios à saúde, mesmo que não impeçam, de facto, uma reinfeção.
Reinfeção ou Covid longa?
O caso da profissional de saúde infetada duas vezes em 20 dias levanta outras preocupações sobre o vírus, nomeadamente a necessidade de perceber se dada variante é ou não capaz de se sobrepor à imunidade adquirida anteriormente por vacinas ou infeções. “Este caso também sublinha a necessidade de realizar uma vigilância genómica do vírus em quem está totalmente vacinado ou em reinfeções”, lembra Recio. “Tal monitorização ajudará a detetar variantes com a capacidade de evadir parcialmente a resposta imune”, explica.
Ainda assim, é difícil obter dados exatos sobre a frequência com que as reinfeções precoces, como a verificada no caso da mulher analisada no estudo, acontecem. Isto porque a grande maioria dos testes que dão positivo depois de um curto período de tempo após uma primeira infeção são considerados casos de Covid de longa duração, em vez de uma reinfeção.
A profissional de saúde em causa foi sujeita a uma análise mais profunda apenas porque no seu primeiro teste PCR positivo não apresentou qualquer tipo de sintoma, pelo que, quando três semanas depois a mulher começou a desenvolver tosse e febre, outros testes foram feitos que revelaram que se tratava de uma reinfeção pela variante Ómicron.
Geralmente estes testes não são levados a cabo por existir uma grande probabilidade de se tratar de um caso de Covid longa e não de uma reinfeção, como lembra a BBC. Alguns estudos reforçam esta ideia defendendo que uma segunda infeção por Ómicron é “rara”, o que ainda assim não significa que não “possa ocorrer”.
“Em conclusão, fornecemos evidências de que as reinfeções por Ómicron BA.2 ocorrem logo após as infeções por BA.1, mas são raras”, diz-se no estudo publicado na Medrxiv. A maioria das reinfeções ocorrem, segundo o mesmo estudo, em jovens adultos não vacinados que sofrem de alguns sintomas, embora nunca cheguem a precisar de hospitalização.
A Ómicron é, atualmente, a variante dominante no mundo. Segundo a BBC, os cientistas acreditam que, à medida que a Covid-19 se vai tornando uma doença com a qual a sociedade aprenderá a viver, as reinfeções vão tornar-se um fenómeno comum, com a maioria das pessoas a ser infetada pelo vírus mais o que duas vezes durante a sua vida.