O que são os afrontamentos na menopausa?
São episódios de vasodilatação cutânea da face, do pescoço e da metade superior do tronco, causando vermelhidão nestas áreas. Os afrontamentos são os sintomas da perimenopausa e pós-menopausa que mais frequentemente afetam a qualidade de vida da mulher.
Quanto tempo duram?
Têm uma duração variável, em regra inferior a cinco minutos, e começam tipicamente por uma sensação súbita de calor. São habitualmente acompanhados de suores e, ocasionalmente, palpitações cardíacas. Por vezes, podem ser seguidos de calafrios, tremores e uma sensação de ansiedade. Evidenciam um predomínio noturno, podendo estar associados a alterações do sono, tais como um despertar frequente ou a insónia crónica. A frequência é variável, podendo surgir até 20 vezes por dia.
Porque acontecem?
Resultam duma disfunção do centro termorregulador hipotalâmico (o nosso “termóstato”), induzida pela carência estrogénica. Podem ocorrer por volta de cinco a dez anos antes da menopausa.
A falta de estrógenio leva a uma disfunção do “termóstato” do corpo humano, o que induz uma sensação súbita de calor, suores e, às vezes, palpitações cardíacas
Vários estudos mostraram que as flutuações hormonais, durante a transição para a menopausa, e o declínio nos níveis de estrogénios (uma das principais hormonas femininas) perturbam o funcionamento dos mecanismos centrais de termorregulação e o cérebro passa a receber sinais errados, provavelmente por interação com os sistemas de neurotransmissão importantes na regulação da temperatura corporal. Este, por sua vez, ao receber, ainda que erradamente, a mensagem de que o corpo está demasiado quente, ativa os mecanismos de arrefecimento, como o aumento da frequência cardíaca e a dilatação dos vasos sanguíneos, causando as palpitações, a vermelhidão e a transpiração – ou seja, todos os mecanismos para arrefecer o corpo, o que pode tornar-se bastante desconfortável quando surge sem razão aparente e num momento inconveniente.
O que se deve fazer quando surgem?
Cerca de um terço da vida da mulher é passada na menopausa, e cerca de metade deste período faz parte da vida laboral ativa. É de extrema importância que a mulher mantenha uma vigilância ginecológica regular. Porquê? Porque esta é uma etapa longa e, ainda que possa ser sintomática, é prioritária a modificação de alguns hábitos de vida, podendo ser preciso a medicação e a vigilância médica para exclusão de patologia. Existem medicamentos diferentes para cada etapa da menopausa, mas há que alertar para o cuidado com a automedicação e para a importância de manter hábitos de vida saudáveis.
Existem ainda medicamentos que podem minimizar os afrontamentos da menopausa e, por outro lado, existem, também, alguns fatores externos que podem contribuir para agravar os afrontamentos, como é o caso do stresse, emoções intensas, consumo de álcool, tabagismo, bebidas com cafeína ou comidas picantes. A ajuda médica é fundamental nesta etapa.
Há forma de controlá-los?
A terapêutica hormonal continua a ser a forma mais eficaz para o tratamento dos afrontamentos. Os estrogénios orais reduzem a frequência dos afrontamentos em 75% dos casos. Outros sintomas, como as dores musculares e articulares, as alterações de humor, as perturbações do sono e a disfunção sexual, podem, também, melhorar com a terapêutica hormonal. Como qualquer medicação, a terapêutica hormonal tem contraindicações, devendo os seus riscos e benefícios ser ponderados caso a caso e discutidos com o ginecologista. Para as mulheres que não possam, ou não queiram, submeter-se a este tratamento hormonal, existem tratamentos alternativos, embora geralmente menos eficazes.
Podem ser evitados?
Há alguns estudos que demonstram que o combate à obesidade, a prática regular de exercício físico, uma boa alimentação, a evicção de tabaco e de alguns fatores desencadeantes, como é o caso do stresse, das emoções intensas ou do consumo de álcool, podem evitar os afrontamentos ou torná-los mais ligeiros. O não consumo de bebidas com cafeína, de comidas picantes e de tabaco ajuda a reduzir os afrontamentos. Também as técnicas de relaxamento, a prática regular de exercício físico, o ioga e a meditação melhoram a maneira de lidar com os afrontamentos.
Cerca de um terço da vida da mulher é passada na menopausa
Amélia Pedro
Ginecologista-obstetra no Hospital CUF Sintra e no Hospital CUF Cascais
Que percentagem de mulheres sofre de afrontamentos?
Afetam 70% das mulheres. Na maioria dos casos, os afrontamentos são transitórios, melhorando gradualmente em 30% a 50% e desaparecem em 85% a 90% das mulheres no quarto ou quinto ano pós-menopausa. Por razões desconhecidas, em 10% a 15% das mulheres, os afrontamentos persistem por vários anos após a menopausa.
Como preveni-lo?
Tentar perceber aquilo que desencadeia ou intensifica os afrontamentos – uma espécie de diário em que a mulher possa identificar se existe alguma relação entre a ingestão de bebidas alcoólicas, alimentos picantes, bebidas com cafeína, stresse ou ambientes muito quentes. Isto pode ajudar a estabelecer um padrão e a evitar novos episódios. Acima de tudo, é importante antecipar e estar preparada para lidar com o afrontamento com calma e serenidade, respirando lenta e profundamente. Outras estratégias podem passar por usar um leque ou uma ventoinha em casa e no local de trabalho. A utilização de roupas largas, ou vestuário em várias camadas removendo, assim, uma peça de roupa quando começar a sentir um afrontamento, pode ajudar.
Sinais de alerta
Alterações do ciclo menstrual
Podem iniciar-se quatro a oito anos antes da menopausa e caracterizam-se por irregularidades menstruais, com ciclos mais curtos no início e depois mais longos (anovulatórios).
Hemorragias
Podem ocorrer durante esta fase, apesar de diminuída, a fertilidade das mulheres mantém-se, pelo que é muito importante o acompanhamento médico e a escolha de um método contracetivo adequado, para evitar uma gravidez indesejada, nesta fase em que pensa que já não vai engravidar.