Toda a polémica à volta da vacina criada pela AstraZeneca em conjunto com a Universidade de Oxford para combater a Covid-19, e que afetou a sua reputação “de uma forma que ecoa por todo o mundo” pode ter matado “centenas de milhares de pessoas”. Esta afirmação é de John Bell, investigador na Universidade de Oxford, que esteve presente num programa especial da BBC sobre a vacina. Bell, que trabalhou no desenvolvimento desta vacina, acusa políticos e outros cientistas pela sua “má conduta” e refere ainda que esta situação “não pode ser motivo de orgulho”.
Em março de 2021, enquanto vários países decidiam a suspensão da utilização desta vacina aprovada para os adultos no fim de janeiro desse ano (Portugal [apesar de ter retomado três dias depois], Áustria, Dinamarca, Itália, França e Alemanha foram alguns deles), devido aos relatos de casos graves de formação de coágulos sanguíneos, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) garantia que “os benefícios” da vacina da AstraZeneca contra a Covid-19 superavam “os riscos de efeitos secundários”.
Em resposta às suspensões decididas até àquele momento, o grupo farmacêutico afirmou que a sua vacina não comportava nenhum “risco agravado” de formação de coágulos sanguíneos e a Organização Mundial da Saúde referiu não haver razão para não se utilizar a vacina da AstraZeneca, definindo a sua eficácia em 76%.
Já em abril, a EMA confirmou que aquele efeito devia constar da lista de efeitos secundários da Vaxzevria, como passou a ser chamada, mas mantinha que os benefícios continuavam a ser maiores do que os riscos, sendo que, nesse mesmo mês, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, anunciou que a vacina seria suspensa no País para os grupos etários mais jovens, com menos de 60 anos. Nessa altura, Portugal tinha utilizado 400 mil doses da AstraZeneca e tinha outras 200 mil em reserva.
Nos EUA, a vacina da AstraZeneca nunca chegou a ser aprovada e o Reino Unido optou por realizar as doses de reforço apenas com as vacinas da Moderna e Pfizer.
A relação de causalidade entre a vacina da AstraZeneca e os casos de formação de coágulos nunca ficou comprovada. Segundo a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido, as últimas estimativas indicam que os casos de coágulos são de 15,5 por milhão de doses.