A exposição a uma única gotícula nasal contaminada é suficiente para ficar infetado com Covid-19 revela um novo estudo, ainda não revisto pelos pares. A investigação, que conta com a participação de especialistas de várias organizações do Reino Unido – pretende monitorizar detalhadamente o momento em que uma pessoa ficou infetada com SARS-CoV-2 pela primeira vez, toda a infeção, e até ao momento em que o vírus é aparentemente eliminado.
Assim, a equipa expôs deliberadamente 36 voluntários saudáveis do sexo masculino e feminino com idades entre 18 e 30 anos à versão original do coronavírus, numa altura em que nenhum tinha sido vacinado. Com análise, os investigadores descobriram que os sintomas começam a desenvolver-se, em média, cerca de dois dias após o contacto com o vírus. A infeção aparece primeiro na garganta mas quando o vírus atinge o pico – cerca de cinco dias após a infeção – é significativamente mais abundante no nariz do que na garganta.
“Em primeiro lugar, não houve sintomas graves ou preocupações clínicas no nosso modelo de infeção nos participantes saudáveis”, revela o principal investigador do estudo, Christopher Chiu, do Imperial College London, acrescentando que normalmente são as pessoas nesta faixa etária os principais impulsionadores da pandemia.
No total, 18 dos 36 voluntários foram infetados, 16 dos quais desenvolveram sintomas leves a moderados, incluindo nariz entupido, espirros e dor de garganta. Alguns tiveram dores de cabeça, dores musculares/articulares, cansaço e febre, mas nenhum desenvolveu sintomas graves. Houve ainda 13 voluntários infetados que relataram perda temporária do olfato, que voltou ao normal passados 90 dias.
“O nosso estudo revela alguns aspetos clínicos muito interessantes, particularmente em torno do curto período de incubação do vírus, da excreção viral extremamente alta do nariz, bem como a utilidade de testes de fluxo lateral, com potenciais implicações para a saúde pública”, conclui o professor.
A investigação sugere, assim, que os testes rápidos são um indicador seguro da presença do vírus e que a sua realização aumenta a probabilidade de detetar infeções durante os primeiros dias. “Descobrimos que, em geral, os testes de fluxo lateral se correlacionam muito bem com a presença de vírus infecciosos”, disse. “Mesmo que no primeiro dia ou no segundo dia eles possam ser menos sensíveis, usá-los corretamente e repetidamente, e agir se forem positivos, terá um grande impacto na interrupção da propagação viral”.
Os autores destacam que, embora o modelo seja uma aproximação segura e eficaz da infeção, o pequeno tamanho da amostra, a diversidade reduzida de voluntários infetados e o período de acompanhamento limitado podem restringir os resultados. No entanto, acreditam que o estudo tem implicações importantes para a saúde pública.
Jonathan Van-Tam, vice-diretor médico da Inglaterra, afirma que “este importante estudo forneceu mais dados importantes sobre a Covid-19 e como esta se espalha, o que é inestimável para aprender mais sobre o novo vírus, para que possamos ajustar na resposta”. Mais estudos destes, garante, “podem ser importantes no futuro para acelerar o desenvolvimento de vacinas e medicamentos antivirais de ‘próxima geração”.
O estudo, denominado Human Challenge Program, é uma parceria entre o Imperial College London, a Vaccine Taskforce e o Departamento de Saúde e Assistência Social (DHSC), hVIVO (parte da Open Orphan plc.) e o Royal Free London NHS Foundation Trust.