Desde que apareceu, há cerca de dois meses, na África do Sul, disseminou-se como um relâmpago pelo mundo. É já a variante dominante em mais de 90 países, de acordo com a Organização Mundial da Saúde; entre eles Portugal, onde 90% das infeções são provenientes desta linhagem, mais transmissível, mas menos perigosa. Segundo o microbiologista João Paulo Gomes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), a maior disseminação da Ómicron aconteceu “na faixa etária entre os 20 e os 29 anos”.
A nível territorial, João Paulo Gomes falou, na reunião no Infarmed, nesta quarta-ferira, em heterogeneidade. Embora Lisboa e Vale do Tejo tenha atingido logo valores mais elevados de transmissão nesta variante, a Ómicrón está já espalhada por todo o território. Pelo contrário, foi no Algarve que a variante demorou um pouco mais a desenvolver-se, pois, na semana entre o natal e o ano novo, 40% das infeções ainda estavam associadas a uma linhagem da Delta, importada do Reino Unido, por causa do turismo.
Ómicron atinge mais rapidamente as vias respiratórias superiores, mas tem dificuldades em chegar aos pulmões (onde se forma a doença grave)
A apresentação de um dos responsáveis pela sequenciação dos genomas do vírus no país trouxe ainda a confirmação das notícias que já circulavam: a Ómicron é mais transmissível, mas menos perigosa. Porquê? Embora tenha “muitíssimas mais mutações [na proteína Spike] do que a Delta” e em lugares decisivos, como na ligação às nossas células ou aos anticorpos, o que justifica o aumento dos contágios face a todas as variantes que já passaram pelo país (espanhola, Alfa, Gama, Delta), esta tem “péssima efetividade nas células do pulmão”.
Ou seja, “como causa menos danos nos pulmões reduz a taxa de morte” e de internamentos em enfermaria e nos cuidados intensivos. Já a efetividade a chegar às vias respiratórias superiores – traqueia e garganta – será, segundo estudos preliminares – até 70% superior do que a variante Delta.
Pode dizer-se que Pedro Pinto Leite, da Direção-Geral da Saúde, confirmou no terreno os dados empíricos que João Paulo Rodrigues transmitiu ao auditório da Autoridade do Medicamento, em Lisboa. De acordo com o primeiro especialista, que fez um ponto da situação epidemiologica do país, o número de infeções atingiu “valores históricos”, especialmente nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e na Madeira. Contudo – e apesar de se estar a assistir a uma ligeira subida das camas ocupadas em enfermaria – os cuidados intensivos encontram-se estabilizados e os hospitais estão “a baixo do que é o nível de alerta e muito abaixo do que já estiveram anteriormente”.