Atinge homens e mulheres, grande parte deles entre os 30 e os 50 anos. Segundo Cristina Freitas Pereira, fisiatra e diretora técnica de Medicina Física e de Reabilitação no Hospital CUF Porto, esta dor “não é uma doença propriamente dita, mas uma manifestação de uma doença com origem, na maior parte dos casos, na coluna lombar”. Vejas as respostas da médica e fique a conhecer a forma ideal de enfrentar este problema de saúde.
O que é?
Também conhecida na comunidade médica como ciatalgia, “corresponde à dor provocada por uma lesão ou compressão do nervo ciático ou, mais frequentemente, de uma das suas raízes”, começa por explicar a médica. Segundo a especialista, este nervo é o maior do corpo humano: “O nervo ciático tem origem na zona lombar, pela união das raízes nervosas lombares e sagradas, desce pela parte de trás da coxa e as suas ramificações prolongam-se até ao pé.” E tem funções essenciais: “É responsável pela sensibilidade e pelo controlo de diversos músculos dos membros inferiores.” Por isso, conclui, “a ciatalgia consiste numa dor que irradia ao longo do membro inferior, chegando frequentemente ao calcanhar ou pé, e que muitas vezes é acompanhada de dor na região lombar ou nádega”.
Quais são as causas?
A mais comum é, garante Cristina Freitas Pereira, “uma hérnia discal – uma doença dos discos que existem entre as vértebras da coluna”. Ou seja, acrescenta, “esses discos – que permitem o movimento entre as vértebras e funcionam como amortecedores – podem romper, permitindo a exteriorização de material contido no seu interior”. E é esta saída de material do disco, que se chama hérnia discal, que, avisa, “pode comprimir uma raiz do nervo ciático, originando a ciática ou ciatalgia”.
A causa mais comum é a hérnia discal
Mas há outras possíveis causas para a compressão das raízes nervosas. Entre elas, encontra-se o “desgaste das articulações na coluna vertebral que pode levar ao estreitamento do canal onde passam essas raízes (canal lombar estreito)” e o “deslizamento de uma vértebra sobre outra (espondilolistese)”. “Mais raramente, as raízes podem ainda”, acrescenta a fisiatra, “ser comprimidas por tumores, quistos ou infeções”. Há também situações como a gravidez, em que pode existir uma compressão do nervo ciático.
Quais são os sintomas?
“A dor ciática é, em si, um sintoma”, esclarece, notando que se pode “estender da coluna lombar até ao pé, sendo a sua intensidade muito variável, embora frequentemente incapacitante”. Há detalhes importantes que influenciam a situação, alerta Cristina Freitas Pereira: a dor ciática, geralmente, atinge apenas um dos membros inferiores e pode agravar-se com a marcha, posição de sentado, tosse ou espirro. “Outros sintomas que se associam frequentemente à dor são a dormência, os formigueiros ou a sensação de queimor/choque elétrico ao longo do membro inferior”, refere. Nas situações de maior gravidade, sublinha ainda, pode ocorrer “falta de força nos membros inferiores, alteração da sensibilidade na região genital e perturbações do controlo da urina e fezes”.
Como se trata?
Este sintoma resolve-se, muitas vezes, espontaneamente, admite a fisiatra. No entanto, quando a dor é intensa ou persistente, deve-se “ser avaliado por um médico”. “Torna-se importante uma valorização cuidadosa dos sintomas, avaliar se as funções do nervo ciático estão preservadas, investigar sinais de maior gravidade e excluir outras causas de dor irradiada à perna”, explica.
Uma das principais causas é uma doença dos discos que existem entre as vértebras da coluna
Assumindo que a hérnia discal é a causa mais frequente de dor ciática, indica a especialista, “na grande maioria dos casos, há resolução dos sintomas em algumas semanas, mesmo sem tratar diretamente a hérnia discal”. O tempo parece ser a solução: “Cerca de 90% das pessoas melhoram com repouso e tratamento conservador em 4 a 6 semanas.” Cristina Freitas Pereira lembra que o “tratamento conservador baseia-se no recurso a medicação para alívio da dor e da inflamação, redução da atividade física e, muitas vezes, orientação para um tratamento adequado de reabilitação”. E, para que este último seja eficaz, é importante cumprir rigorosamente o programa prescrito. “Mesmo em tempo de pandemia é fundamental não adiar os tratamentos”, diz.
O tratamento cirúrgico fica reservado para as situações graves (perda de força ou alterações do controlo da função urinária e intestinal) ou casos de persistência de dor incapacitante e com limitação funcional.
Como se previne?
A melhor estratégia passa pela prevenção, garante a fisiatra, sugerindo que se tenha cuidados com a coluna. “Sobretudo no que se relaciona com uma postura correta e um funcionamento adequado nos músculos que suportam a coluna vertebral.” Dois aspetos que considera “fundamentais para manter discos intervertebrais saudáveis e diminuir a probabilidade de se romperem, comprimirem as raízes do nervo ciático e provocarem dor”. É por isso que, diz, desde a infância, deve-se “incentivar as crianças a adotarem uma postura correta, evitar a sobrecarga da coluna lombar e privilegiar atividades ou exercícios com o objetivo de reforçar a musculatura da coluna vertebral”. No entanto, admite, “nem sempre é possível prevenir por completo o aparecimento desta situação ou evitar a sua recidiva”. A solução passa por apostar no “fortalecimento adequado dos músculos de suporte da coluna vertebral”. E para se compreender, diz: “Podemos comparar a nossa coluna a uma tenda de campismo e considerar que os músculos são as espias que mantêm a tenda devidamente alinhada e com tensão.” Ou seja, nota, “ao fortalecermos os músculos das costas e os músculos abdominais conseguimos melhorar a postura e fornecer um suporte adequado para responder às exigências a que a coluna é exposta diariamente”. É, explica, “como criar um colete muscular à volta da coluna, diminuindo a sua solicitação nas atividades de vida diária e tornando-a mais resistente a sobrecargas”. Há ainda outras atitudes a tomar para manter a coluna saudável, como uma correta postura na posição sentada (numa cadeira com suporte lombar e altura apropriada), um colchão e almofada adequados e um correto manuseamento de cargas.
E ainda, no vídeo, conheça 11 motivos possíveis para as suas dores de costas: