Um grupo de investigadores parece ter encontrado a explicação para, ao longo destes quase dois anos de pandemia, haver quem nunca tenha sido infetado pelo novo coronavírus, apesar de todas as pessoas à sua volta terem ficado infetadas. A dúvida era se essas pessoas conseguiam evitar, de facto, o vírus, ou se era eliminado antes de ser detetado nos testes.
Através do acompanhamento e análise de vários profissionais de saúde ao longo da primeira vaga da pandemia, os pesquisadores da University College London deram conta de que o vírus pode, de facto, ter entrado no corpo, mas foi eliminado pelas células T do sistema imunológico, responsáveis por produzir anticorpos e desencadear um ataque a um vírus com o qual já tenham tido contacto antes, logo no início do contágio. Por isso mesmo, o vírus não foi reconhecido nos exames.
Estas células T de memória, dizem os investigadores, são provenientes de infeções anteriores de outros coronavírus sazonais que provocaram gripes comuns e que, agora, as protegeram contra a Covid-19. “Essas células T pré-existentes estão prontas para reconhecer o SARS-CoV-2”, afirma Leo Swadling, principal autor do estudo.
De todos os participantes do estudo, 58 deles não testaram positivo para a Covid-19 em momento algum, apesar de estarem altamente expostos ao vírus diariamente. Depois de recolhidas amostras de sangue desses profissionais de saúde dessas, os pesquisadores verificaram, contudo, um aumento nas células T que reagiram contra o Covid-19, comparativamente às amostras retiradas antes do início da pandemia às amostras de pessoas que não tinham sido expostas ao vírus. Também se detetaram valores mais altos num outro marcador sanguíneo de infeção viral.
Os resultados um estudo publicado em julho do ano passado por investigadores de Singapura na revista Nature já tinham referido a possibilidade de haver mesmo uma memória imunitária mais duradoura para o novo coronavírus. Neste estudo, as conclusões são importantes uma vez que o braço das células T da resposta imune tende a conferir imunidade mais duradoura, de anos em vez de meses, em comparação com os anticorpos.
De acordo com a equipa, esta descoberta pode abrir caminho para uma nova geração de vacinas que tenham em vista a resposta das células T, que podem produzir imunidade muito mais duradoura e contra novas variantes do novo coronavírus.