1 – Dores menstruais
São dores abdominais, também conhecidas por dismenorreia, que “têm origem no útero” e começam dois dias antes do início de cada período menstrual e depois prolongam-se durante a menstruação, nota Fernando Cirurgião, diretor de Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital São Francisco de Xavier. Durante a menstruação, formam-se compostos (prostaglandinas) que causam contrações uterinas e provocam dores.
Alexandre Valentim Lourenço, diretor do Serviço de Ginecologia do Hospital Santa Maria, acrescenta, por seu lado, que “é uma dor muito comum e a intensidade varia de mulher para mulher”. Algumas sentem apenas algum desconforto e outras queixam-se que são tão dolorosas e intensas ao ponto de serem incapacitantes e terem de faltar ao trabalho ou à escola. Existem evidencias científicas, como um estudo dos EUA, exemplifica Fernando Cirurgião, que dá conta que “12 por cento das faltas às aulas, naquele país, são por causa das dores menstruais”.
Há mulheres que também têm dores de cabeça ou na zona inferior das costas, além de náuseas. Algumas delas podem apresentar sintomas de tensão pré-menstrual, como irritabilidade, alteração de humor, nervosismo, cansaço e peito dorido. Alexandre Valentim Lourenço avisa, contudo, que “quanto mais intensa é a dor menstrual, maior é a probabilidade da mulher sofrer de endometriose ou miomas uterinos que provocam esse estado doloroso”.
Existem vários tipos de tratamentos: os medicamentos analgésicos como o paracetamol para aliviar a dor e os anti-inflamatórios não esteroides como o ibuprofeno (brufen), o voltaren, o naprozin ou nimesulida (nimed) que, segundo Fernando Cirurgião, “vão bloquear as substâncias que são libertadas pelo útero, e que provocam dor e contrações que se podem comparar a dores de parto”. A toma da pílula, que é um contraceptivo oral, também pode ser usada, sendo “um dos medicamentos mais eficazes a longo prazo, porque alivia a dor e reduz a quantidade de fluxo de sangue”, explica o ginecologista Alexandre Valentim Lourenço. A mulher pode ainda recorrer ao truque de tomar a pílula de modo contínuo para não ter menstruação e as dores associadas, sugere Fernando Cirurgião.
2 – Dores relacionadas com a ovulação
“Esta dor resulta da ruptura do folículo do óvulo, que tem cerca de um centímetro e meio, que rebenta a meio do ciclo menstrual. Esta dor ocorre, assim, a meio dos ciclos menstruais e dura dois dias”, resume o ginecologista Alexandre Valentim Lourenço.
Por norma, usam-se anti-inflamatórios não esteroides para tratar a dor que também diminui ou desaparece com o uso da pílula, porque, elucida, “um dos efeitos deste contraceptivo é não ovular e impedir, assim, o crescimento e rebentamento do folículo”.
3 – Dores relacionadas com os miomas uterinos
Segundo Fernando Cirurgião, diretor de serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital São Francisco de Xavier, “os miomas uterinos são tumores benignos que estão presentes no útero e que podem causar dor em função da sua dimensão”. Alexandre Valentim Lourenço, diretor do serviço de Ginecologia do Hospital Santa Maria, nota, por sua vez, que “30 a 40 por cento das mulheres podem ter miomas uterinos que são pequenos, mas quando crescem, podem provocar dor”. O médico explica ainda que “o mioma pode crescer durante a gravidez e perto da altura da menopausa, causando hemorragia ou dor”. Por norma, se forem pequenos, os médicos apenas vigiam os miomas que conseguem detetar na ecografia. “Já um mioma com três ou quatro centímetros, por exemplo, sentimos logo pelo toque quando fazemos o exame ginecológico”, descreve o médico. Neste caso, sugere, a cirurgia é o tratamento mais eficaz para retirar o mioma. Contudo, nota Alexandre Valentim Lourenço, há casos de “mulheres que já têm 47 anos e não querem ter mais filhos ou estão na menopausa, em que se retira o útero todo, porque podem ainda existir uns miomas com milimétricos que podem voltar a crescer”. E não se vai correr esse risco.
4 – Dores de infeção ginecológica
O ginecologista Alexandre Valentim Lourenço explica que “esta dor intensa pode ocorrer quando a infeção está no colo do útero ou no endométrio – tecido que reveste internamente o útero -, e pode estar relacionada com a inflamação da zona interna do útero a seguir ao parto ou com outras situações”. A mulher sente a dor abaixo do umbigo. “Mas se houver uma infeção que já se alastrou para as trompas e ovários, então temos a chamada doença inflamatória pélvica que pode ter abscessos ou peritonite pélvica. E causa uma dor muito intensa, com febre”, descreve. Esta é uma doença causada por bactérias, como a clamídea, transmitida sexualmente, “eventualmente por falta de proteção durante as relações sexuais e que pode atingir as trompas, os ovários e a região pélvica, provocando lesões internas que poderão causar dores”, corrobora Fernando Cirurgião, diretor de Serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital São Francisco de Xavier.
No caso da infeção ser ligeira, os antibióticos, sob a forma de comprimidos, são a primeira escolha. Mas, nota Alexandre Valentim Lourenço, “se a dor for muito intensa e a infeção estiver mais avançada, o médico faz o tratamento endovenoso com internamento”. Quando os antibióticos não são eficazes, a febre não baixa, o doente piora e pode até ter um abscesso de grandes dimensões, a melhor opção é ir ao bloco operatório. “Fazemos a
cirurgia para tirar o pus do abdómen e os abscessos, para que depois o antibiótico atue melhor”, descreve.
5 – Dores relacionadas com a atividade sexual
O ginecologista Alexandre Valentim Lourenço diz que podem ser de vários tipos: “algumas estão relacionadas com doenças como miomas e endometriose, que são aumentadas pela relação sexual, porque quando está a haver a penetração, esses órgãos podem doer”. Também existem as dores que não estão associadas a doenças, como o vaginismo. “Trata-se de uma contração dos músculos da vagina, porque a mulher está mais tensa durante a penetração e então a vagina contrai e dói”, nota o médico. Neste caso o tratamento passa, sugere, por sua vez, o ginecologista Fernando Cirurgião, pela terapia sexual com a ajuda de um psicólogo e de um fisioterapeuta que ensina a mulher a fazer exercícios pélvicos. Pode usar vibrador e dilatadores vaginais para depois facilitar o relaxamento durante a atividade sexual, corrobora Alexandre Valentim Lourenço, aconselhando ainda o uso de lubrificantes vaginais.
Outro tipo de dor relacionada com a atividade sexual pode ocorrer naquelas mulheres que ficaram com cicatriz mais dolorosa após o parto ou então têm uma vagina muito estreita, tendo dores durante o ato sexual. “Neste último caso, o médico alarga a cavidade vaginal através de uma cirurgia, em ambulatório”.
6 – Dores relacionadas com cancro ginecológico (ovário e útero)
Segundo o ginecologista Alexandre Valentim Lourenço, existem três grandes tipos de cancro ginecológico: o do colo do útero, do endométrio e o do ovário. “O cancro do endométrio não costuma dar muita dor, mas sangra e por norma ocorre a seguir à menopausa. E quando causa dor, já está num estadio muito avançado.” O médico faz, uma raspagem e pode operar.
Já o cancro do colo do útero é assintomático durante vários anos e provoca dores e perdas de sangue na atividade sexual. É silêncio numa fase inicial. “Uma das formas de detetar é através do exame papanicolau, porque se sabe que está relacionado com o vírus do HPV”, afirma. “Se ainda não houver cancro, destruímos a zona do colo do útero que tem a lesão, em ambulatório. Se for cancro, já temos de retirar o útero, fazer radioterapia e eventualmente quimioterapia”, descreve. Por fim, nota, “o cancro do ovário, que é muito silencioso e não tem dor inicial, sendo o pior, mais raro e com uma menor taxa de sobrevida”. O doente faz quimioterapia quando tem dor intensa no abdómen.
7 – Dor da endometriose
A endometriose é uma doença grave que provoca muito sofrimento e dores.
Segundo Alexandre Valentim Lourenço, diretor do Serviço de Ginecologia do Hospital Santa Maria, “o endométrio é o que menstrua todos os meses que é uma camada de glândulas que está dentro do útero. Essas glândulas crescem para receberem o embrião e depois transformam-se parte delas na placenta. Mas, quando não há gravidez, essas glândulas descamam e o útero sangra em todas as menstruações”. Ou seja, continua, “o endométrio cresce entre um ciclo menstrual e o seguinte, e quando há menstruação ele descama, sai todo”. A endometriose é a presença destas glândulas fora do interior do útero. “Estas glândulas podem ir para a trompa, ovário e cavidade pélvica e descamam na altura da menstruação. Só que em vez de saírem pela vagina e haver uma menstruação, esse sangue fica na cavidade abdominal”, explica. Mais, alerta: “Ao espalhar o sangue, a pessoa desenvolve uma inflamação que provoca dor na urina, a evacuar ou durante a relação sexual. Às vezes é mais difícil de tratar do que um cancro”. Muitas destas mulheres também são inférteis.
Segundo Fernando Cirurgião, diretor de Serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital, “10 por centro da população feminina tem endometriose e só um terço é que procura ajuda. Daí o diagnostico tardio”.
Os anti-inflamatórios ajudam a controlar a dor, mas quando não funcionam e há nódulos, quistos, é necessário fazer cirurgia. Outro tratamento é a pílula.