Vários estudos têm evidenciado os perigos de passarmos demasiado tempo sentados. Várias condições de saúde estão associadas a longos períodos sentados: risco de obesidade, aumento da pressão arterial, níveis altos de açúcar no sangue, níveis anormais de colesterol e risco de morte por doenças cardiovasculares ou cancro, por exemplo, verificadas mesmo entre pessoas que praticam exercício físico.
De facto, organizações como a Organização Mundial da Saúde e o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos recomendam um mínimo de 10 mil passos por dia para manter um nível saudável de atividade e evitar um estilo de vida sedentário. No entanto, atingir este valor pode ser uma tarefa difícil, especialmente para pessoas cujo trabalho as obriga a passar longos períodos de tempo sentados.
Estes dados levaram um grupo de cientistas a estudar uma tribo de caçadores-recoletores na Tanzânia, em busca de respostas sobre a evolução da atividade física no desenvolvimento humano. O novo estudo, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, revelou resultados surpreendentes, afirmam os investigadores.
A equipa pediu a 28 membros da tribo, com idades entre os 18 e os 61 anos, que usassem aparelhos rastreadores de atividade, que foram usados à volta das coxas e permitiram rastrear o número de horas que os participantes estavam em atividade e em repouso.
Os rastreadores revelaram que os membros da tribo passavam cerca de duas a três horas em atividade e cerca de dez horas inativos – mais ou menos o mesmo número de horas que uma pessoa num país industrializado, de acordo com David Raichlen, professor na Universidade do Sul da Califórnia e um dos autores do estudo.
A diferença está na maneira como os membros da tribo passam o seu tempo inativo. Os Hazda aproveitam a maioria do tempo de “descanso” para estarem sentados no chão ou numa posição de agachamento.
Confrontados com a pergunta de como esta posição alternativa pode influenciar a saúde, os cientistas passaram ao passo seguinte: medir as contrações musculares dos membros da tribo enquanto estes caminhavam, estavam sentados ou agachados. Neste ponto, a equipa concluiu que, quando os participantes estavam agachados, os seus músculos das pernas estavam muito mais contraídos do que quando se sentavam, e quase 40% mais do que enquanto caminhavam.
Raichlen acredita que estas variações na atividade muscular têm impactos significativos na saúde. Esta posição de agachamento, que os cientistas classificam como “descanso ativo”, requer muito mais energia e atividade muscular do que a posição de sentar, em que as pernas estão completamente inertes, o que pode influenciar positivamente a saúde.
Um estudo anterior com a tribo Hazda já tinha demonstrado que, devido ao seu estilo de vida, os elementos da tribo passavam grande parte do dia em atividade física moderada a vigorosa. Isto faz com que tenham níveis saudáveis de colesterol, pressão arterial estável e ótima saúde cardiovascular ao longo da vida.
“A fisiologia humana não está bem adaptada a longos períodos de inatividade”
Estas descobertas levam os cientistas a defender que os nossos corpos não evoluíram no sentido de se tornarem sedentários, e que “a fisiologia humana não está bem adaptada a longos períodos de inatividade”. “Os nossos corpos estão, provavelmente, adaptados à atividade muscular contínua”, com a ativação dos músculos tanto na atividade física como em posturas de descanso que tenham maiores níveis de contração muscular – algo que não conseguimos alcançar quando estamos sentados, explica Brian Wood, também professor na Universidade do Sul da Califórnia e autor estudo.
Parece que, mais do que a simples inatividade, é o descanso em cadeiras e similares, em que os músculos das pernas estão completamente inertes, que causa os problemas de saúde que são tão incomuns na tribo Hazda. Isto leva os investigadores a acreditar que “intervenções baseadas neste modelo podem ajudar a reduzir os impactos negativos da inatividade na saúde das populações industrializadas”.
“Não estamos a sugerir que as pessoas adotem um estilo de vida de caçador-recoletor”, diz Wood. “Mas devemos conhecer a nossa história evolutiva”, e tentar perceber que efeitos pode ter na nossa saúde. Segundo Raichlen, “o estudo evidencia que a maioria de nós precisa de repensar a quantidade de tempo que passamos em descanso, com pouca atividade muscular”.
Se o agachamento não for a solução mais conveniente, os especialistas aconselham, por exemplo, a experimentar secretárias que permitam trabalhar de pé, ou fazer pausas para caminhar um pouco a cada 30 minutos que passamos sentados.