Há um ano começamos a perguntar-nos que impacto teria a convivência do vírus da gripe com o da Covid-19. Os cuidados foram redobrados, as máscaras passaram a cobrir-nos a cara a maior parte do dia, houve quem se vacinasse contra gripe e contra a pneumonia pela primeira vez na vida e, a certa altura, voltamos inclusive todos para casa.
O resultado? Não houve qualquer morte por gripe em Portugal entre outubro de 2020 e maio de 2021, segundo os dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). A situação foi análoga no resto da Europa, onde os cuidados de proteção contra a Covid-19 reduziram em 99% a atividade gripal.
Com o inverno a chegar e após este ano atípico, o epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Manuel Carmo Gomes, não exclui a possibilidade de virmos a ter um inverno com um maior número de infeções pelo vírus da gripe. “Mais do que surgir uma mutação que seja muito agressiva, isto pode acontecer porque nós não encontramos o vírus no inverno passado”, explica o epidemiologista.
Ou seja, sem contactar com o vírus, quase ninguém “atualizou” a proteção do sistema imunitário contra o mesmo. Como se fôssemos um telefone que saltou uma das atualizações do sistema operativo.
Ainda assim, Carmo Gomes refere que “muita gente continua a usar máscara na faculdade ou no supermercado e pode ser que nem tenhamos uma época de gripe especialmente agressiva”.
O especialista sublinha ainda que, “a menos que andasse por aí um vírus com as características da gripe de 1918, e não existe nenhum sinal que tal esteja para acontecer, a prioridade é a do costume: Vacinar os idosos porque é a faixa da população com maior probabilidade de ter complicações bacterianas que surgem no seguimento de uma gripe”.
A primeira fase da vacinação gratuita contra a gripe em Portugal arrancou no dia 27 de setembro e abrange utentes de lares, rede de cuidados continuados, profissionais do Serviço Nacional de Saúde e grávidas, divulgou a Direção-Geral da Saúde.
Numa segunda fase, serão integradas as pessoas com 65 ou mais anos e as pessoas portadoras de doenças ou outras condições previstas na norma da vacinação contra a gripe 2021/22.