Ainda não tem o aval das autoridades, nem é certo que venha a ter, mas um conjunto de especialistas juntou-se para elaborar uma nova matriz de risco para avaliar a Covid-19, em Portugal. A ideia é acrescentar aos dois indicadores existentes (incidência da doença e transmissibilidade do vírus – RT) outro: a gravidade, medida em três eixos – mortes e internamentos em enfermaria e em unidades de cuidados intensivos.
Esta sugestão de alteração resulta de uma parceria entre a Ordem dos Médicos e o Instituto Superior Técnico, que consideram que o gráfico pelo qual o Governo se orienta atualmente “está ultrapassado”, “não chega”, “começa a dar uma visão parcial do problema” e não acompanha os novos passos do processo de vacinação, referiu o matemático Henrique Oliveira, na sessão de apresentação do modelo, nesta quarta-feira, na sede da Ordem dos Médicos, em Lisboa.
Acreditam que este Indicador de Avaliação do Estado da Pandemia, como foi apelidado, possa contribuir com mais dados, servindo para antecipar o deterioramento da situação epidemiológica e “achatar a curva” epidemiológica, explicou o bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães.
Já Henrique Oliveira realçou ainda que “o combate à pandemia exige reuniões de equipas especializadas em cima do acontecimento” e que “não se pode esperar uma semana para reagir”, sob prejuízo de ser tarde demais. Um exemplo do que torna os resultados da atual matriz ainda mais lentos, segundo o especialista, é a incidência de casos acumulada a 14 dias; quando esta deveria ser “usada a sete dias, no mínimo”.
A ministra da Saúde está a par da iniciativa e já recebeu a proposta, mas não se sabe se vai ou não aceitar a nova matriz. Certo é que não haverá mudanças antes da próxima reunião com os especialistas no Infarmed, agendada para 27 de julho, confirmou o gabinete de Marta Temido, à VISÃO. E mesmo depois disso pode não acontecer, visto que a última vez que o Governo se pronunciou sobre a revisão da matriz de risco, no Conselho de Ministros de dia 9, a perspetiva era a de que o atual método seria para manter e, na resposta à VISÃO, o ministério reafirma o “consenso técnico existente sobre esta matéria”, durante o último encontro no Infarmed.
A tutela acrescenta ainda que “acompanha diariamente e divulga com regularidade os vários indicadores que a Ordem dos Médicos sugere que sejam integrados na matriz de risco” e que estes têm sido “tomados sempre em consideração nos processos de decisão”.
Como se passaria a medir o risco?
A matriz – disponível a partir de hoje no site da Ordem – tem uma classificação de 10 pontos (situação residual) a 100 pontos (situação critica), com alguns patamares-chave pelo meio: 40 (zona de alerta) e 80 (zona de alarme).
Para o bastonário dos Médicos, tem a vantagem de ser “uma fotografia diária e real”, ou seja, possível de atualizar todos os dias e, desta forma, tomar decisões mais rápidas e setoriais.
E se já estivesse em aplicação, Portugal encontrar-se-ia, por esta altura, nos 92,3 pontos, “um bocadinho abaixo da ebulição [os 100]”. “A água está a ferver”, alerta Henrique Oliveira, que acredita que só a vacinação em massa pode fazer descer este valor, com a situação epidemiológica a agravar-se. Segundo o novo método, a incidência da doença deverá descer nos próximos 10 a 15 dias.