A ideia da ligação entre a Covid-19 e a Síndrome de Taquicardia Postural Ortostática (POTS, na sigla inglesa) já vem do ano passado, quando especialistas identificaram vários casos de pessoas que recuperaram da doença e que estavam, entretanto, a experimentar sintomas semelhantes aos dessa condição. Isto fez com que os médicos a começassem a testar os doentes para a POTS.
Tae Chung, professor na Universidade Johns Hopkins em Baltimore, Maryland, nos EUA, e que começou a investigar esta possível ligação, alertou, na altura, para o facto de os médicos que não estão familiarizados com essa síndrome poderem descartar esses sintomas como efeitos prolongados de Covid-19, o que podia ser um erro, já que diagnosticar esta síndrome atempadamente pode apressar o tratamento e melhorar a qualidade de vida dos doentes.
Já em março deste ano, um estudo realizado por investigadores suecos, e publicado no Journal of the American College of Cardiology (JACC), corroborou essa ideia, concluindo que esta doença rara, um distúrbio do sistema nervoso autónomo que controla funções involuntárias como a frequência cardíaca, pressão arterial e contrações das veias que auxiliam o fluxo sanguíneo, pode ser um dos efeitos secundários a longo prazo da infeção pelo coronavírus.
Agora, os especialistas afirmam que têm observado cada vez mais pessoas, com Covid de longa duração, que têm sintomas de síndromes raras, principalmente de POTS e de Síndrome da Fadiga Crónica (CFS, em inglês) ou Encefalomielite Miálgica, sensação de cansaço extremo e permanente.
A TIME relata o caso de uma mulher de 44 anos, dermatologista em Portland, Oregon, nos EUA, mãe de uma criança de três anos, que tinha uma vida muito ativa e corria longas distâncias. Elizabeth Dawson ficou infetada com Covid-19 em outubro de 2020 e, quatro meses depois, apesar de já não estar positiva para a doença, tinha sintomas ainda piores. Agora, a dermatologista continua com dores de cabeça fortes, náuseas constantes – não consegue ficar de pé mais de dez minutos sem se sentir tonta, assim revela ao jornal -, névoa cerebral e cansaço extremo.
Depois de perceber que os seus sintomas podiam estar relacionados com POTS, Dawson conseguiu marcar uma consulta com um neurologista de Portland e foi diagnosticada com essa síndrome, mas também com Síndrome da Fadiga Crónica, condições que partilham sintomas, principalmente fadiga severa. Peter Rowe, investigador na Universidade Johns Hopkins, que trata deste tipo de doentes há mais de duas décadas, garante à TIME que todos os doentes com Covid de longa duração que foram diagnosticados com CFS, também tinham POTS. “Décadas de negligência com POTS e CFS prepararam-nos para falharmos miseravelmente”, garante, referindo que a falta de tratamento disponível para essas condições – há poucos profissionais especializadas em disautonomias no país – pode vir a criar um quadro de agravamento da Saúde Pública. De acordo com a American Autonomic Society, será necessário “um investimento adicional significativo em investigação” para lidar com o crescente número de casos de POTS.
Uma investigação internacional, que teve em conta quase 4 mil doentes com Covid de longa duração, concluiu que todos os que apresentavam taquicardia, tonturas, névoa cerebral ou fadiga “devem ser avaliados para POTS”. Alguns médicos têm, contudo, afastAdo a possibilidade de a Covid-19 ser um gatilho para doenças como a POTS e a CFS, que são as duas muito mais comuns em mulheres do que em homens, referindo que as síndromes podem ser psicológicas.
Sintomas de longa duração são comuns entre os recuperados de Covid-19
Uma investigação publicada em fevereiro deste ano no Journal of the American Medical Association’s Network Open, realizado pela Universidade de Washington, deu conta de que 27% dos sobreviventes da Covid-19, com idades entre os 18 e os 39 anos, apresentavam sintomas persistentes três a nove meses após testarem negativo para a doença. Em relação aos doentes com 65 anos ou mais, essa percentagem subia para 43%, mas a queixa mais comum entre os participantes era fadiga persistente.
Em março deste ano, uma análise de registos médicos na Califórnia descobriu que 32% dos doentes com sintomas de Covid-19 prolongada começaram com infeções assintomáticas, mas relataram efeitos colaterais preocupantes semanas e meses após a infeção.
Já um estudo de abril, realizado pela Sociedade Espanhola de Médicos Gerais Familiares, e que entrevistou mais de 2 mil pessoas para identificar a presença de sintomas associados à infeção pelo novo coronavírus, encontrou 1834 casos de pessoas que apresentavam sinais compatíveis com Covid de longa duração: fadiga constante, falta de memória, dores musculares e nas articulações ou névoa cerebral.