“Tenho dois irmãos mais novos e, nesta quarentena, temos tentado distrair-nos, mas mesmo assim parece que todos os dias são iguais. Sinto-me como se sente, isolada. Mas acredito que tudo vai voltar ao normal. Aliás, quando voltarmos, vamos estar mais fortes e com o mundo à nossa espera. Não permita que esta pandemia o deixe triste” – é o excerto de uma das cartas que idosos do concelho de Gaia, no distrito do Porto, vão receber.
A ideia partiu de Mariana Costa, aluna da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, freguesia de Valadares, e o desafio foi lançado aos 12 agrupamentos escolares e aos colégios particulares de Gaia pelo Gabinete da Juventude da Câmara Municipal.
Em declarações à agência Lusa, a mentora do projeto confessou estar “muito satisfeita” com adesão de outros jovens, por considerar que “é importante mostrar aos idosos que não estão sozinhos” num período, o da pandemia da covid-19, que restringiu as visitas em lares e hospitais.
“Tenho esperança que sintam que minha mensagem [referindo-se à carta que a própria escreveu e à qual juntou um desenho feito em família] lhes tocou o coração”, disse Mariana Costa.
A estudante de 17 anos teve a ideia de escrever aos idosos quando, há cerca de dois meses, participou num ‘workshop’ promovido por uma associação juvenil, no qual foram abordados tópicos como o impacto que as iniciativas podem ter na vida dos outros e a importância da empatia pelo próximo.
“Apesar de ser chato estarmos em quarentena, é necessário para nos protegermos. E assim espero que também esteja bem e que com esta carta receba o meu carinho” — é outas das frases que podem ser lidas nas cartas que agora serão partilhadas.
De acordo com o vereador da Juventude da Câmara de Gaia, Elísio Pinto, estão prontas entre 3.500 a 4.000 missivas, sendo objetivo “combater a solidão e “estabelecer uma ponte de amizade entre as várias gerações, numa iniciativa sem barreiras”.
“Em Gaia não fazemos nada sem os jovens e os jovens de Gaia aparecem-nos cada vez mais com ideias pioneiras e novas. Este é um gesto com um simbolismo tremendo porque envolve os melhores sentimentos do mundo. É uma atitude muito altruísta”, descreveu.
O autarca confessou à Lusa que leu algumas das cartas, tendo encontrado “mensagens profundas de força, energia e amor” que sintetiza numa frase: “É quase como os netos que agradecem o que os avós fizeram por eles”.
Parte deste conjunto de cartas foi hoje entregue no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHNVG/E) numa cerimónia na qual o presidente do conselho de administração, Rui Guimarães, deu a conhecer a nova equipa de cogestão do doente geriátrico.
“Todos sabemos que, quando um doente [idoso] é admitido, quando sai tem muita dificuldade em adquirir as capacidades que tinha antes do internamento, nomeadamente a mobilidade, funções cognitivas e inserção no meio social. Esta equipa está vocacionada para estas situações. Vamos cooperar com todas as áreas para promover uma avaliação global do idoso”, descreveu o coordenador da equipa, Agripino Oliveira.
De acordo com o responsável, e segundo dados de 2013, 40% dos internamentos em Portugal são de pessoas idosas com mais de 65 anos. Acima dos 75 anos esse número passa para 70%.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.792.586 mortos no mundo, resultantes de mais de 127 milhões de casos de infeção, enquanto em Portugal morreram 16.843 pessoas dos 820.716 casos de infeção confirmados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
PFT // ACG