No final de outubro, a Direção-Geral da Saúde publicou uma norma com a estratégia nacional de testes para o SARS-CoV-2 que contemplava a utilização dos chamados testes rápidos. E, com a entrada em vigor do novo estado de emergência, no início deste mês, tornou-se possível exigir esse tipo de testes em estabelecimentos de saúde, lares, escolas, prisões e nas chegadas a Portugal por via aérea e marítima.
Esta semana, foi a vez de a Comissão Europeia recomendar o uso dos testes rápidos ao coronavírus, apelando aos Estados-membros o reconhecimento mútuo dos resultados, “para facilitar o movimento transfronteiriço e a localização e tratamento de contactos transfronteiriços”. E, para que não restassem dúvidas, a comissária com a pasta da Saúde, Stella Kyriakides, veio defender, em comunicado, que eles “são decisivos para conter a propagação do vírus, mitigar infeções e limitar as medidas de isolamento de quarentena”.
Escrito isto, ninguém disse que os testes rápidos são uma boa opção para quem quer ter a certeza de que não está infetado, por exemplo antes de se encontrar com alguém que pertence a um grupo de risco. Ou – cenário ainda mais surreal – indiscriminadamente, à entrada de uma festa. A principal razão, alertam os especialistas, é a falsa sensação de segurança que podem provocar, em determinados casos.
Convém, por isso, saber de que falamos quando falamos de testes rápidos.
O que são os chamados testes rápidos?
São testes de antigénio. No caso do coronavírus, enquanto os testes moleculares procuram o material genético do próprio SARS-CoV-2, estes apenas detetam as proteínas da superfície do vírus.
Como é que são feitos?
Também implicam a colheita do exsudado da nasofaringe – através da já famosa zaragatoa. A recolha de amostras do trato respiratório superior é feita com uma espécie de cotonete comprido, que é introduzido no nariz e/ou na boca, até à faringe. O resultado aparece numa placa parecida com as dos testes de gravidez – e dois riscos é sinal de um caso positivo.
São mesmo rápidos?
Sim. Os resultados demoram apenas 15 a 30 minutos, contra as 12 a 24 horas dos testes moleculares. Essa rapidez é a sua maior vantagem, no caso de ser necessário tomar medidas de saúde pública.
Em que situações é que devem ser usados?
Em pessoas sintomáticas nos primeiros cinco dias de sintomas (inclusive), em assintomáticos nalgumas situações concretas, como nos surtos, e no rastreio periódico de profissionais de saúde em contexto de maior risco de exposição. Também são recomendados sempre que haja indisponibilidade dos testes moleculares, e/ou que estes não apresentem resposta em tempo útil, nos casos de doentes com sintomas e com critérios de internamento, e em assintomáticos que tiveram um contacto próximo com alguém infetado.
É verdade que são menos fiáveis do que os testes moleculares?
Nenhum teste é 100% fiável. Para começar, a fiabilidade de qualquer teste depende da recolha – se a zaragatoa for mal realizada, pode comprometer o resultado. Além disso, se o vírus ainda se estiver a replicar, um teste molecular também pode não ser decisivo. Dito isto, é verdade que os testes de antigénio apresentam uma menor fiabilidade do que os testes moleculares, sobretudo quando a carga viral é mais baixa. Por isso é que devem ser realizados nos primeiros cinco dias de sintomas, altura em que a carga viral é habitualmente mais elevada.
Estamos a falar de falsos negativos?
Sim. Os primeiros testes de antigénio que apareceram davam muitos falsos negativos, mas, com o avanço da tecnologia, foram ganhando sensibilidade. Mesmo assim, um resultado negativo numa pessoa com forte suspeição clínica de Covid-19 não dispensa a realização de teste molecular nas 24 horas seguintes, para confirmação.
Onde é que podem ser feitos?
Nos postos da Cruz Vermelha Portuguesa, onde custam 20 euros se não apresentar prescrição médica. No caso de o resultado do teste ser positivo, o doente deve ser encaminhado para o Serviço Nacional de Saúde.
Não estão à venda nas farmácias?
Não, não estão, porque a recolha de amostras deve ser feita por um profissional de saúde. Nalgumas farmácias e clínicas vendem-se testes serológicos, que apenas detetam a presença de anticorpos, ou seja a resposta do organismo à infeção
Por que é que os testes serológicos, à venda em farmácias e clínicas, não servem para diagnosticar a infeção?
Porque um resultado negativo não significa que a pessoa não está infetada, apenas que os anticorpos não estão detetáveis. Como eles só são detetáveis a partir da segunda semana de infeção, nesse intervalo de tempo a pessoa pode estar contaminada mas ainda não ter anticorpos.