Apesar de os novos casos de Covid-19 continuarem a subir a um ritmo lento – mais 0,8% de casos hoje, num total de 29 912 infetados e 1277 óbitos, desde o início da epidemia em Portugal – ainda não é tempo de festejar. Em resposta à VISÃO, a Diretora-Geral de Saúde, Graça Freitas, reafirmou que a mensagem continua a ser de cautela. “Não estamos em tempo de fazer balanços, ainda é cedo”, disse a médica quando questionada sobre o sucesso do período de desconfinamento que o País tem estado a viver.
Elogiando o comportamento de “grande civismo e responsabilidade” demonstrado até agora, Graça Freitas apelou a que os portugueses continuem a ficar em casa, ao mesmo tempo que respondem ao pedido feito pelo primeiro-ministro, António Costa, de que se volte a frequentar cafés e restaurantes, de forma a ajudar a economia. “É preciso atingir um ponto de equilíbrio, retomando estas atividades com responsabilidade”, explicou.
É que de forma nenhuma podemos confiar no calor como forma de atenuar os efeitos do vírus SARS-CoV-2. “No mundo todo, acompanhamos com grande ansiedade o efeito da temperatura no vírus. Sabemos que os outros quatro coronavírus que infetam o homem são sazonais [circulando muito mais no inverno do que no verão]. Se este vírus tiver o mesmo comportamento vamos sentir algum alívio.”
Em abril, Tomas Molina, do departamento de Física da Universidade de Barcelona, analisava os casos de Covid-19 na cidade e defendia que a chegada do verão irá contribuir para a redução da transmissão. “Há uma temperatura específica que beneficia o vírus e as temperaturas mais baixas contribuem para a transmissão, porque aumenta a vulnerabilidade.” Os resultados obtidos pela sua equipa estão em linha com os registados noutras áreas geográficas, nomeadamente na China, ao apontar para um aumento de casos quando a temperatura está abaixo dos 10 graus. No entanto, estes estudos, que se limitam a analisar a relação entre temperatura e número de casos positivos para o vírus, pecam por não incluir outros parâmetros que já se percebeu serem determinantes nesta epidemia, como sejam os fatores socio-económicos e indicadores meteorológicos, como a humidade absoluta ou a radiação ultra-violeta.
Aliás, uma prova de que o calor não trava a progressão do vírus é a sua disseminação em países quentes, como a Austrália, o Irão, ou “Singapura, localizado na região do equador, e que registou um surto importante”, sublinhou Graça Freitas. “Este vírus ainda não se deixou estudar. Portanto, as medidas têm de ser tomadas tendo em conta o pior cenário possível”.