É, literalmente, a pergunta para um milhão de dólares. E também o que torna a pandemia de Covid-19 tão enervante: por que razão há pessoas infetadas com o SARS coV-2 que não desenvolvem quaisquer sintomas e outras que não lhe resistem? Que fatores de risco se jogam nesta pandemia?
Logo aos primeiros casos foi possível constatar que, embora a maioria das pessoas infetadas com o coronavírus – 81%, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA – apresentem poucos ou leves sintomas, outras pessoas podem precisar de um ventilador para respirar.
Verificou-se ainda que a percentagem de óbitos entre pessoas saudáveis não ultrapassava um 1 por cento. Mas logo disparava no caso de haver doenças cardiovasculares (10,5%), diabetes (7,3%) e com doenças respiratórias crónicas (cerca de 6%). A estes juntavam-se, sublinhava, entretanto, a Organização Mundial de Saúde, os mais velhos. Mas como avisou Tedros Ghebreyesus, o diretor geral da OMS, os jovens também “não são invencíveis”.
Eis a lista do que já se sabe até ao momento:
Idade
Ainda só se conheciam casos deste SARS coV-2 na China quando se estabeleceu um risco acrescido nas pessoas com mais de 60 anos. Estudos diferentes apontavam sintomas graves ou críticos com ligeiras variações, mas a maioria incluía problemas respiratórios (frequência de respiração, níveis de oxigénio no sangue e ainda duração dos sintomas) tal como febre e uma tosse seca.
Além disso, segundo dados recolhidos nos EUA, e divulgados pelo Quartz, 31-59% dos adultos entre 75 e 84 anos diagnosticados com o vírus apresentam sintomas graves o suficiente para serem hospitalizados. Já nos infetados entre os 20 e os 44 anos, o mesmo valor situa-se entre os 14 e os 21 por cento.
Outras patologias
É certo que as pessoas mais velhas têm maior probabilidade de sofrer de outros problemas de saúde que podem agravar os sintomas da Covid-19. Mas não são os únicos. A eles juntam-se ainda todos os que têm problemas cardíacos, diabetes e cancro. Há doenças que prejudicam a função de órgãos como o coração, outras alteram o funcionamento do sistema imunitário – o que também inibe a resposta do corpo à invasão do coronavírus. E quem tem doença pulmonar crónica pode também ver aumentados os danos aos pulmões, agravados ainda caso seja fumador. Mas ainda há poucos estudos sobre isso.
O fator genético
Há várias equipas de investigação empenhadas em compreender de que forma o nosso património genético pode afetar a gravidade de uma infeção por Covid-19. Para já, sabe-se que este coronavírus infeta o ser humano ao se ligar a um recetor específico do lado de fora das células, que usa para entrar na célula.
Mas os efeitos dessa invasão revelam-se muito diferentes: quanto é explicado pela suscetibilidade genética? “É uma questão ainda em aberto”, assumiu a geneticista Andrea Ganna, do Instituto de Medicina Molecular da Finlândia (FIMM), da Universidade de Helsinquía, à Science Magazine.
Tipo de sangue
Outras investigações estão a analisar se o tipo sanguíneo, que é determinado pelos genes, pode alterar a gravidade dos sintomas do paciente com Covid-19. Um estudo preliminar realizado nas cidades chinesas de Shenzhen e Wuhan indicava que os doentes com sangue tipo A apresentavam sintomas mais graves do que aqueles com tipo O. Mas deixavam o alerta que era ainda cedo para tomar decisões clínicas com base nessa descoberta.
Género
Logo nessas investigações iniciais era possível detetar que havia mais pacientes hospitalizados do sexo masculino (58 por cento) do que feminino – um desequilíbrio que se repetiu depois nos casos dos pacientes nos EUA e em Itália.
Houve quem questionasse que relação poderia haver com os hábitos sociais dos homens (como não lavarem as mãos com tanta frequência…). Mas é mais ou menos claro entre a comunidade científica que os homens têm sistemas imunitários mais fracos e tendem a ter mais problemas de saúde do que as mulheres porque os dois cromossomas X das mulheres oferecem uma proteção maior contra várias condições. É também por isso que elas vivem, em regra, mais anos do que eles.
Imunizações anteriores
Como quem diz, vacinas. É um dado ainda muito recente, e até inesperado. Ao que foi observado, nos países em que houve uma vacinação em massa da BCG, usada para combater a tuberculose, há menos casos e menos mortes por Covid-19. E sabemos que os países mais afetados, como Itália ou os EUA, não possuem programas de vacinação universais. Outros, como o Irão, por exemplo, só adotaram a prática há pouco tempo e daí essa proteção extra não estar a incluir a população idosa.
Diga-se, também, que não é a primeira vez que a vacina da BCG é associada ao combate a outras doenças além da tuberculose. Por exemplo, é usada para tratar o cancro na bexiga numa fase muito inicial e previne ainda a hanseníase, nome técnico da lepra. É também já aceite na comunidade científica que aquela vacina reduz a gravidade das infeções pulmonares inferiores causadas por vírus. Falta comprovar se o mesmo se aplica à Covid-19. A investigação já está em curso na Austrália e Holanda.
Estilo de vida
A tudo isto há que acrescentar o estilo de vida e há um risco acrescido entre os fumadores. Segundo a OMS, estima-se em 34% os homens com mais de 15 anos que fumam. Já entre as mulheres, e apesar do valor estar a crescer, essa percentagem ainda não alcançou os dois dígitos.
“É já claro que os hábitos de vida pouco saudáveis podem aumentar absolutamente as suas hipóteses de apresentar sintomas mais graves”, disse Ramzi Yacoub, diretor de farmácia da SingleCare, ao Business Insider. “Como o COVID-19 afeta diretamente seus pulmões, as pessoas que fumam correm um risco maior, devido à forma como o fumo é prejudicial aos pulmões e ao coração”.
Mas não é só. De acordo com o CDC, o centro de controlo e prevenção de doenças nos EUA, a tudo isto pode-se ainda acrescentar o consumo excessivo de álcool, que contribui para a doença hepática, um fator de risco para o agravamento dos sintomas em caso de infeção pelo SARS coV-2.
Há ainda aquilo a que os investigadores já chamam a epidemia da obesidade. Oiça-se o especialista em doenças infeciosas da Universidade de Minnesota, Michael Osterholm, em declarações prestadas à rádio americana WCCO: “Sabemos que cerca de 45% da população dos EUA com mais de 50 anos é obesa e isso parece estar a contribuir para o grande aumento nas taxas de mortalidade aqui, em comparação com o que foi observado em outros países”.