Se o coronavírus consegue manter-se no ar (aerossol) até três horas, então devemos todos usar máscara? Os especialistas dizem que o risco de contágio é mínimo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que vírus não é transportável pelo ar, mas um estudo do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, nos Estados Unidos, publicado no National Institutes of Health – a agência federal de investigação científica que inclui 27 centros – e no The New England Journal of Medicine concluiu que se mantém no ar até três horas.
“Nunca se irão fazer estudos com pessoas – fazê-las respirar determinadas gotículas do vírus – daí a dificuldade e a aparente contradição”, nota à VISÃO Carlos Matias Dias, coordenador do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.
O especialista refere que “não há muitas evidências” de que as partículas suspensas no ar (aerossóis) constituam ou não um risco real.
“O vírus em suspensão pode ser sempre inalado, mas em ambiente de rua estes aerossóis são dispersos pelo vento, vão caindo pela força da gravidade e ficam nas superfícies”, explica.
No entanto, acrescenta, uma possível infeção também depende da “dose de vírus que inalamos”, se for uma gotícula a “probabilidade é muito baixa” porque o nosso organismo tem mecanismos de defesa, caso diferente é se alguém infetado tossir ou espirrar na direção de outra pessoa, já que o “jato de partículas a que se está exposto é considerável”. O “risco de infeção por via aérea”, ou seja, pelo ar que respiramos, “é mínimo”.
Linsey Marr, especialista em transmissão de vírus por aerossóis na univeridade Virginia Tech, nos EUA, corrobora, em entrevista ao The New York Times”: “A não ser que esteja junto de uma pessoa infetada, a percentagem de gotículas a que estamos expostos é muito baixa.”
E em locais fechados, como supermercados? “As partículas vão depositando-se nos alimentos e, por isso, é aconselhável que se lavem os produtos com uma solução de água com duas ou três gotas de lixívia”. Mas atenção: separadamente. Não use a mesma água para lavar legumes e fruta e para latas ou garrafas.
Carlos Matias Dias atesta que, neste momento, “não será uma má prática fazer esta lavagem” e as pessoas sentem-se mais seguras assim.
“Podemos enlouquecer se começarmos a discutir todos os ‘e se’ porque tudo é uma potencial fonte de contágio, é por isso que temos de nos concentrar nos riscos maiores” diz Linsey Marr. Se as pessoas “estão preocupadas com isso”, conclui, então “limpem as embalagens”.
Quanto ao uso de máscaras, o epidemiologista concorda com as indicações da OMS e da Direção Geral de Saúde. Só devem ser usadas pelos profissionais de saúde, pessoas doentes ou suspeitos de infeção.
Recorde-se que a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, referiu que o uso de máscara transmite “uma falsa sensação de segurança”.
Admitiu, no entanto, que, neste momento não há máscaras para 10 milhões de portugueses, “todos os dias, várias vezes ao dia e usadas corretamente”, sendo necessário estabelecer “prioridades” para as pessoas doentes ou de maior risco. Acrescentou que, no futuro, “havendo máscaras para todos, poderá ser considerada uma medida útil”, mas tem de se “ensinar a usar de forma correta”.