Na rua já não se vê muita gente de rosto destapado. Mas será essa a melhor forma de nos defendermos do novo coronavírus?
Se recuarmos ao início da pandemia, encontraremos um discurso coerente por parte da Direção-Geral da Saúde (DGS) e da Organização Mundial de Saúde (OMS): as máscaras são úteis às pessoas infetadas, aos casos suspeitos de infeção e às pessoas que contactam muito de perto com doentes (pessoal de saúde e cuidadores).
Mas nem por isso os portugueses acataram estas recomendações, pois as máscaras cirúrgicas estão quase esgotadas nas farmácias e, quando elas existem, a especulação tomou conta das transações – já há casos em que custam 10 euros. A procura aumentou 1829%, em fevereiro, face ao período homólogo do ano passado, segundo a Associação Nacional de Farmácias.
Uma leitura ao Plano Nacional de Preparação e Resposta à Doença por novo coronavírus (COVID-19), elaborado pela DGS, deixa a questão bem clara: “As máscaras faciais são máscaras descartáveis para procedimentos cirúrgicos ou médicos e formam uma barreira física que previne a transmissão de vírus de uma pessoa doente para uma pessoa saudável, ao bloquear as partículas respiratórias/aerossóis expelidas pela tosse ou espirro. A utilização de máscara facial por pessoas doentes durante surtos ou pandemias é útil para impedir a propagação do vírus a contatos próximos ou outras pessoas da comunidade.”
No entanto, não existe evidência que comprove a redução da propagação da infeção em pessoas sem sintomas e, por isso mesmo, só se recomenda a sua utilização em cuidadores de doentes no domicílio, em casos de suscetibilidade acrescida como, por exemplo, imunodeprimidos. Neste último exemplo, o uso deve ficar reservado para uma fase de mitigação, em situações de grandes aglomerados populacionais ou numa ida a serviços de saúde. Quando se anda sozinho na rua, a passear o cão, por exemplo, não há qualquer necessidade de a boca ficar tapada.
Pior a emenda…
A todos os outros, a medida recomendada é sempre a lavagem profunda de mãos, já que o uso incorreto da máscara pode até aumentar o risco de infeção. Ao ser mal colocada, acentua o contacto das mãos com a cara. Além disso, e à semelhança da utilização de luvas descartáveis, contribui para uma sensação falsa de segurança.
Se tiver mesmo de se munir de máscara, saiba como fazê-lo corretamente, assistindo a este vídeo da OMS.
Além das máscaras de proteção unidirecional (as mais comuns), existem também as FFP2 e FFP3 de proteção bidirecional para pequenas ou micro partículas. Trata-se de um respirador que as filtra, ajusta-se à cara e, como seria de calcular, sai bastante mais caro do que conhecidas como cirúrgicas. Estes dispositivos devem, por isso, ser deixados para o pessoal de saúde, bombeiros e forças de segurança, já que eles não existem em número suficiente para toda a população doente.
“A medida essencial para evitar a infeção não é usar a máscara, é o distanciamento social”, frisou Graça Freitas. E esse, por enquanto, não padece de especulação.