Há um primeiro caso em Anyang, na China: cinco membros de uma família sofreram com o coronavírus depois de receberem um hóspede de Wuhan no início de janeiro. Mas a visitante, uma mulher de 20 anos, nunca ficou doente. É a isto que se referem estes estudos agora apresentados: há indivíduos que podem infetados com o coronavírus e espalhá-lo, mesmo que não apresentem sintomas. “Acho que não há dúvida de que alguém sem sintomas e portador do vírus poder transmitir o vírus para outra pessoa”, disse Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infeciosas, citado pelo New York Times. “A questão é: qual é a prevalência desse fenómeno? Isso é um fator importante para surtos desta natureza ou é uma ocorrência rara? ”
A questão começa a preocupar os investigadores que procuram compreender o comportamento destes vírus capazes de gerar uma pandemia. “Pode-nos estar a escapar um grande número de casos, por não se enquadrarem nos critérios normais”, disse Michael Osterholm, diretor do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infeciosas da Universidade de Minnesota.”Suspeito que existam muitas pessoas assim a transmitir o vírus. Ausência de evidência não é evidência de ausência.”
De facto, pessoas infetadas, mas assintomáticas, podem propagar a doença com eficiência – nem que seja porque não têm motivos para evitar multidões ou beijos. Sem sintomas, são também mais difíceis de detetar, e isso sugere que as medidas tomadas para tentar conter a disseminação podem não ser adequadas. Ou seja, só fazer rastreio a quem viaja de zonas afetadas e já tem sintomas pode significar que não se detetam uma série de novos casos.
Em fevereiro, a Alemanha levou 126 pessoas para casa da região de Wuhan. Dez passageiros ficaram em quarentena – porque não se sentiam bem ou achavam que haviam sido expostos ao coronavírus. Mas todos receberam testes. Os 10 pacientes isolados apresentaram resultado negativo, mas duas pessoas – que se sentiram bem – surpreenderam os cientistas ao testar positivo. Foram hospitalizados, monitorados e testados repetidamente. Apenas desenvolveram uma erupção cutânea leve e uma ligeira dor de garganta. Nenhum ficou doente.
Se é verdade que pessoas assintomáticas ou minimamente sintomáticas podem transmitir a doença com frequência e eficiência, os testes podem precisar ser ampliados, avisaram já especialistas.
“Isso implica que podemos precisar de muito mais testes que podem ser usados no campo, no momento da assistência”, notou a Dra. Judith N. Wasserheit, co-diretora do MetaCenter da Universidade de Washington para Preparação para Pandemia e Segurança Global da Saúde. “Ainda estamos a aprender sobre a biologia desse vírus e como causa doenças”.