O ano de 2019 estava quase no fim quando o Annals of Internal Medicine anunciava a “boa-nova”: não havia razões para tão grande preocupação com o consumo de carne vermelha – contrariando décadas de conselhos nutricionais. O relatório foi amplamente criticado por uma série de especialistas em saúde pública – incluindo associações como a American Heart Association e a American Cancer Society. Mas enquanto uns pediram a retirada do artigo, outros optaram por comemorar a “descoberta” e questionar as diretrizes que desencorajam o consumo de carne.
Eis que esta segunda-feira, 3, um outro grupo de investigação recuou nas conclusões, publicando um outro grande estudo no JAMA Internal Medicine, que dá de novo grande destaque aos danos de uma dieta demasiado rica em carne. Depois de analisarem dados de milhares de pessoas, seguidas em média durante três décadas, a conclusão foi que quem consumia mais carne vermelha, carne processada e aves tinha um risco (pequeno, é certo, mas superior) de desenvolver doenças cardiovasculares. Já quem comia peixe regularmente estava mais a salvo.
Segundo Linda Van Horn, uma das autoras do estudo e membro do painel consultivo que atualmente está a ajudar o governo americano a atualizar as suas diretrizes alimentares, os dados agora estudados reforçam as recomendações de se optar por alimentos como frutas e vegetais frescos, grãos integrais, legumes, peixe, nozes e sementes, e limitar a ingestão de carnes vermelhas e processadas, além dos fritos e alimentos açucarados.
São conclusões que sobressaem novamente pelo contraste com o tal estudo da Annals of Internal Medicine , cujo coordenador se viu debaixo de uma série de críticas por não ter divulgado conflitos de interesse: em causa, estava o o dinheiro que recebeu da indústria para uma investigação, que acabaria por publicar na mesma revista, três anos antes, em que punha em xeque as diretrizes gerais sobre o açúcar. Em dezembro, um comunicado oficializou finalmente os conflitos do autor principal.