“Mais vale rico e saudável do que pobre e doente”. Das investigações na área da economia do comportamento às que vêm sendo feitas no campo da epigenética, permitem confirmar a veracidade óbvia do ditado popular: a riqueza material não traz, a partir de certo nível, mais satisfação com a vida e a forma como nos comportamos tem realmente peso na promoção da saúde. Uma das pesquisas mais recentes neste campo mostra como se pode ampliar a esperança de vida em mais de dez anos, especialmente para as mulheres, através de cinco cuidados simples.
5 comportamentos que ‘dão’ mais vida
A investigação é de Yanping Li e mais 10 colegas, foi feita na Escola de Saúde Pública de Harvard e envolveu a análise de estudos longitudinais na população dos Estados Unidos (78 865 mulheres ao longo de 34 anos e 44 354 homens durante 27 anos). A proposta era analisar o impacto de incorporar entre um e cinco comportamentos simples – e considerados saudáveis – no estilo de vida e comparar esses resultados com os de quem não adotou nenhum desses factores no seu quotidiano, a saber:
1 – Dieta saudável (variada, rica em frescos, com pouco sal e açúcar e sem fritos)
2 – Manter peso equilibrado (Índice de Massa Corporal entre 18,5 e 24,9)
3 – Exercício físico regular (meia hora diária, em média, moderado ou vigoroso)
4 – Não abusar do consumo diário de álcool (um copo para elas, duas bebidas para eles)
5 – Não fumar (idealmente, sem ter hábitos tabágicos na história de vida)
Além destes variáveis, foram ainda considerados os antecedentes clínicos (risco de enfarte, diabetes e cancro na história familiar). Quantos anos seria possível acrescentar à vida, ou melhor, quantos anos de vida podem ser potencialmente perdidos ao descartar os tais cinco fatores que protegem – e promovem – a saúde?
O corpo é que ganha
Como era de prever, a síntese dos resultados divulgada num artigo da Science-Based Medicine permitiu descobrir que havia diferenças significativas entre as pessoas que tinham adotado, total ou parcialmente, os comportamentos saudáveis e os que não os tinham seguido de todo. Assim, a esperança de vida aos 50 anos para quem não tinha tido quaisquer dos cinco cuidados acima mencionados era de mais 29 anos para as mulheres e de 25,5 anos para os homens. Já no caso dos que seguiram a chamada ‘regra dos cinco’, elas tinham uma esperança de vida de mais 43,1 anos e eles de 37,6.
Conclusão: a diferença entre seguir e não adotar cinco comportamentos simples no estilo de vida traduzia-se num ganho potencial de 14 anos de vida no feminino e de 12,2 no masculino. Investir apenas numa das frentes – num ou em alguns dos “famosos cinco” fatore – isso traduz-se sempre em ganhos potenciais, como revelou a investigação de Harvard.
Ai se eu pudesse…
Segue-se a pergunta inevitável: se sabemos que é assim, porque não o fazemos? Por facilidade, que acaba por trazer dificuldades: sair a correr de casa e “comer qualquer coisa” pelo caminho; ir para sofá e entregar-se a distrações do que preparar uma refeição com alimentos frescos e não processados. Porque sair da zona de conforto do carro ainda não é, para a maioria, o novo normal. Ou porque o exercício é, com frequência, algo que se desfruta na bancada de um estádio ou através da personagem favorita de um videojogo. E, talvez, porque se tenham crenças erróneas acerca da idade, das capacidades pessoais e dos hábitos sociais. Exemplos: “Isso já não é para mim, é para os mais novos.” “Não preciso dessas coisas, isso é para os mais velhos.” ”Não estou para isso, quero viver bem, comer bem (beber, fumar) agora.” “Só os atletas e a socialite é que fazem”.
Por fim, coisas que o estudo não diz mas que vale a pena lembrar: não há pílulas mágicas nem receitas universais para viver mais e melhor; cada pessoa tem uma história e o seu timing para respeitar o corpo e promover a longevidade; em caso de dúvida, lembre-se de que menos é (quase) sempre mais: libertar-se de excessos (e respetivas “compensações”) traz mais leveza, agilidade e tempo de vida.