Podem surgir em diversas situações, nomeadamente quedas, acidentes de viação, agressões ou acidentes desportivos, entre outros. A maior dificuldade para os pais é perceber se se trata de uma situação que justifique uma observação médica urgente ou não.
QUANDO PROCURAR AJUDA MÉDICA?
Há alguns fatores que aumentam a probabilidade de haver lesão cerebral e, quando presentes, implicam sempre uma observação médica urgente.
Os mais importantes são os seguintes:
– Impacto de alta energia
Este tipo de avaliação é um pouco subjetiva, mas há alguns critérios que confirmam que se trata de uma lesão de alto impacto, nomeadamente:
– Queda de mais de 1 m de altura em crianças menores de 2 anos
– Queda de mais de 1,5 m de altura em crianças maiores de 2 anos
– Atingimento na cabeça por projétil a alta velocidade
– Acidente de viação com ejeção ou morte de algum passageiro
– Peão ou ciclista atropelado por veículo a motor
– Perda de consciência (desmaio) ou sonolência excessiva
A perda de consciência é indicativa de impacto de moderada/alta energia e a duração parece estar relacionada com a gravidade da lesão (quanto mais demorada, mais grave será a situação).
– Convulsões
São um pouco assustadoras, mas surgem com relativa frequência, podendo acontecer imediatamente após o traumatismo ou alguns dias ou semanas depois.
Apenas estas últimas são indicadoras de possível epilepsia pós-traumática.
– Amnésia (perda de memória)
É uma situação bastante frequente e que assusta muito os pais.
No entanto, a sua presença nem sempre significa maior gravidade, embora seja indicação para observação médica.
– Vómitos
Podem surgir mesmo na ausência de lesão cerebral e o seu significado deve ser avaliado caso a caso.
– Dor de cabeça
A dor de cabeça é difícil de valorizar no contexto de um traumatismo craniano. No entanto, se for agravando progressivamente pode indicar lesão cerebral e é um sinal de alerta.
– Fratura craniana
A confirmação de uma fratura do crânio tem de ser sempre feita com base num exame de imagem (radiografia ou TAC), mas pode ser suspeitada sempre que houver um afundamento ósseo ou um hematoma mole (geralmente depois do traumatismo surge um hematoma duro).
– Alterações neurológicas
Qualquer alteração neurológica (alteração na força de um membro, alteração na fala, desequilíbrio, pupilas com tamanhos assimétricos, …) pode indicar lesão cerebral e deve sempre ser valorizada.
O QUE SE DEVE FAZER?
– Acalmar a criança (e os pais)
Apesar de serem muitas vezes aparatosos, a maior parte dos traumatismos cranianos não comporta riscos para a criança e tem um ótimo prognóstico. No entanto, são situações que geram alguma ansiedade, pelo que o primeiro conselho é mesmo o de tentar acalmar toda a gente.
– Colocar gelo no local do impacto
O gelo é um anti-inflamatório e alivia também a dor, pelo que deve ser aplicado imediatamente após o traumatismo.
Deve-se ter o cuidado de não aplicar diretamente sobre a pele para não provocar uma queimadura.
Nem sempre é fácil convencer uma criança a deixar colocar gelo, mas é uma medida importante, que merece algum esforço adicional por parte dos pais.
– Observar a criança e procurar outras lesões
Por vezes os traumatismos cranianos não acontecem isoladamente, pelo que faz sentido tentar perceber se há mais alguma lesão associada (peito, barriga, braços, pernas,…).
– Fazer uma avaliação da situação e procurar por sinais de alerta
Se estiver presente algum dos sinais listados acima, a criança deve ser observada com urgência por um médico.
O QUE NÃO SE DEVE FAZER?
– Impedir que a criança durma
Apesar de ser uma crença mais ou menos generalizada, não há necessidade de impedir que a criança adormeça depois de um traumatismo craniano.
Nos casos em que o traumatismo é mais exuberante e a criança chora muito é frequente ficar um pouco sonolenta e isso não tem nenhum significado em particular, mas a sonolência excessiva é sempre um sinal de alerta.
– Abanar ou estimular excessivamente
Esta atitude é desaconselhada por dois motivos:
– Pode haver lesão da coluna cervical e a estimulação excessiva pode agravar o quadro
– As crianças adotam naturalmente a posição que lhes é mais confortável, pelo que não faz sentido contrariar isso
– Tentar que a criança coma ou beba imediatamente após o traumatismo
Os vómitos são bastante frequentes nestas situações, pelo que é importante aguardar um pouco para ver como é que o quadro evolui. Só depois de estar toda a gente tranquila é que faz sentido tentar que a criança coma ou beba alguma coisa, mas apenas se estiver bem consciente (no seu estado «normal»).
Primeiros Socorros Bebés e Crianças, Hugo Rodrigues (colaborador da Bolsa de Especialistas VISÃO), Verso de Kapa, maio 2017