Um encolhimento do hipocampo direito. Foi esta a alteração no cérebro encontrada por um grupo de investigadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Pittsburgh capaz de justificar o andar lento nos idosos.
A área afetada, que tem uma forma semelhante a um cavalo marinho, controla a memória e a consciência espacial, o que explica a associação ao ritmo da caminhada nos mais velhos.
“Durante algum tempo, não tinhamos a certeza se era apenas um declínio paralelo à idade ou um declínio verdadeiramente relacionado”, explica a Andrea Rosso, principal autora do estudo. Encontrar uma região do cérebro ligada a ambos fornece provas sólidas de que o andar lento e as alterações cognitivas não estão apenas correlacionadas mas ligadas”, acrescenta.
A descoberta, esperam os investigadores, abre caminho para um diagnóstico e intervenção precoces (e mais simples) nos casos de demência
“O nosso estudo usou apenas um cronómetro, fita e um corredor com cinco metros, juntamente com cerca de cinco minutos, uma vez por ano”, adianta a investigadora, no comunicado da universidade.
O estudo contou com 175 participantes, com idades compreendidas entre os 70 e os 79 anos, todos com boa saúde e funções mentais normais no início do período de avaliação. Ao longo de 14 anos, os participantes foram avaliados periodicamente, incluindo a tal prova cronometrada de caminhar no corredor de cinco metros e meio. No final, foram revaliados a nível de funções cerebrais, com testes e exames de imagiologia.
O hipocampo direito foi a única área do cérebro que encolheu simultaneamente com a perda de velocidade no andar e o declínio cognitivo.
Todos os participantes andavam mais devagar no final do estudo, mas os que tinham registado maior agravamento do que os seus pares tinham 47% maior probabilidade de enfrentar declínio mental.
De realçar que os investigadores tiveram em conta fatores comuns na terceira idade, como a fraqueza muscular, dores nos joelhos e doenças como diabetes, problemas cardíacos e hipertensão.
“As pessoas não deviam descartar estas alterações na velocidade do andar. A avó pode não estar simplesmente a ficar vagarosa, pode ser um sinal precoce de algo mais sério”, considera Rosso, que apela também aos médicos: “Tipicamente, quando os médicos notam um andar lento nos pacientes, consideram que se trata de um problema mecânico e enviam-nos para a fisioterapia. O que nós descobrimos é que os médicos também devem pôr a hipótese de se tratar de um problema no cérebro a causar a lentidão e pedir uma avaliação cognitiva do paciente”, conclui.