Os números são conhecidos e costumam ser chocantes: 1% da população mundial tem exatamente a mesma riqueza do que os restantes 99 por cento, segundo a organização não-governamental britânica Oxfam, baseado em dados do banco Credit Suisse.
O mesmo relatório mostra ainda uma concentração da riqueza inusitada: as 62 pessoas mais ricas do mundo têm o mesmo do que a metade mais pobre da população mundial, ou seja, têm tanto quanto 3,75 mil milhões de pessoas.
Ao longo dos anos, não faltam estudos a mostrar que o ser humano se revolta contra a desigualdade, pendendo naturalmente para a igualdade. O jornal britânico The Guardian cita alguns desses estudos, exaustivos, muitos deles levados a cabo com grupos de crianças a partir dos três anos.
Mesmo nas mais tenras idades, as crianças tendem a distribuir os recursos que lhes são fornecidos de forma igualitária entre os seus pares, uma tendência que se reforça com o crescimento.
A “aversão à desigualdade” não é apenas uma expressão do politicamente correto; é algo intrínseco à natureza humana, tem dito a ciência, mesmo quando são estudadas diferentes culturas e diferentes grupos sociais, incluindo as pessoas mais ricas.
Por isso é que o estudo Building a Better America −One Wealth Quintile at a Time, dos professores de Gestão e de Psicologia Michael I. Norton and Dan Ariely, está a causar tanta surpresa e a ter tanta atenção.
É verdade que o estudo mostra que as pessoas preferem a igualdade à atual situação; mas também sugere que não estão preocupadas com grandes fossos sociais e que até aceitariam bem que os 20% do topo tivessem três vezes mais dinheiro do que os 20% do fundo.
Ouvidas pessoas em 16 países, tanto de esquerda como de direita, os autores concluíram que “existe um certo desejo pela desigualdade – nem muito igual nem muito desigual”, afirma Michael Norton.
A rejeição pela distribuição totalmente igualitária da riqueza tem uma razão, acreditam os autores: o sentido de justiça ou o mérito. Quando se introduzem estes conceitos nos estudos sobre as desigualdades, as conclusões mudam rapidamente.
E a justiça pode não ter nada a ver com a recompensa por uma longa vida de trabalho ou pelo mérito. Mas se uma pessoa ganhar a loteria, por exemplo, é justo que tenha muito mais dinheiro do que a outra, a desigualdade torna-se aceitável.
Outros argumentos para a tolerância à desigualdade passam pela mobilidade social (a ideia de que quem trabalha muito sobe na vida e que a pobreza está associada à preguiça ainda persiste) ou mesmo pela inveja do outro (como a “minha galinha” tem de ser melhor do que a do meu vizinho, é bom que ele esteja uns degraus abaixo na escala social).
E, de repente, aquela ideia bonita da aversão intrínseca do ser humano à desigualdade já não parece tão lógica, pois não?