A intenção era a melhor, mas está a dar maus resultados. É essa a conclusão de um estudo publicado na Science sobre a reflorestação em África: o projeto de recuperar 100 milhões de hectares de áreas ambientalmente degradadas pode vir a ter efeitos perversos sobre os ecossistemas.
O problema é a utilização de espécies arbóreas erradas, não nativas das regiões onde são plantadas, e em locais que não são apropriados para árvores. Segundo o estudo A mistura de reflorestamento com restauração é generalizada, 52% dos projetos de plantação de árvores em África ocorrem em savanas, sendo que 60% utilizam espécies não nativas. Estes dados constituem uma ameaça para ecossistemas fundamentais do continente. A área afetada pela plantação “imprudente” é equivalente à do território de França.
O projeto de reflorestação em causa é a Iniciativa Africana de Restauração Florestal (AFR100), uma parceria estabelecida entre 34 países africanos em dezembro de 2015 que tem como objetivo a recuperação de 100 milhões de hectares de áreas degradadas em África até 2030, recorrendo à plantação e regeneração natural das árvores. A AFR100 integra-se na Bonn Challenge, uma iniciativa do governo alemão e da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) que pretende restaurar 350 milhões de hectares de paisagens degradadas e desflorestadas em todo o mundo até 2030.
A ação de reflorestação, no entanto, tem inquietado os investigadores, devido a uma classificação incorreta de ecossistemas herbáceos, podendo conduzir à perda de ecossistemas abertos e não florestais, anteriormente intactos. A gravidade do problema está ainda a ser estudada.
Mas conhecem-se já vários impactos dos projetos de restauração. Um dos mais significativos é o impacto nas ervas: as copas das árvores impedem que a luz do sol chegue ao solo, pondo em risco o ecossistema de pastagem da savana, potencialmente resultando na perda de biodiversidade, especialmente de espécies sensíveis à sombra, e de habitats abertos. Além disso, a reflorestação inadequada pode comprometer a disponibilidade de água e restringir o acesso a alimentos e a recursos medicinais por parte das populações locais. As novas espécies introduzidas podem também vir a ser problemáticas se se tornarem invasoras.
Segundo Kate Parr, autora do estudo e professora de ecologia tropical da Universidade de Liverpool, as savanas estão a ser erradamente consideradas para a reflorestação e é necessário e urgente rever as definições, para não se voltar a classificar uma savana como sendo uma floresta (definição essa dada pelas Nações Unidas). A investigadora sublinha que a restauração dos ecossistemas é essencial, mas que cada ecossistema tem uma forma de restauração adequada – e plantar árvores pode não ser a melhor solução.